Dos 5.570 municípios brasileiros, no mínimo 68% estão atualmente classificados como em risco alto ou muito alto para poliomielite, popularmente conhecida como paralisia infantil. Isso representa um total de 3.781 cidades, sendo a maioria (2.104) categorizada com alto risco para a doença. Apenas 447 municípios estão catalogados como em baixo risco para a pólio, enquanto 1.342 são classificados como em médio risco.
Esses dados foram divulgados durante a 26ª Jornada Nacional de Imunizações, em Recife, e estão presentes no Plano de Mitigação de Risco de Reintrodução do Poliovírus Selvagem e Surgimento do Poliovírus Derivado da Vacina. A consultora em imunizações da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), Franciele Fontana, expressou preocupação diante desse cenário.
“Vemos grande parte do país em vermelho e em vermelho forte”, comentou Franciele, referindo-se às cores que indicam riscos elevados para a doença, que foi erradicada do território brasileiro em 1994 após intensas campanhas de vacinação em massa. O último caso de pólio no país foi confirmado em março de 1989. “A gente vem de uma série histórica de alto e muito alto risco de introdução no país e isso nos preocupa”, acrescentou.
Essa série histórica mencionada por Franciele refere-se aos resultados de uma avaliação de risco feita pela Comissão Regional de Certificação para a Erradicação da Pólio na Região das Américas. Em anos anteriores, o Brasil já havia sido classificado como em risco alto para a pólio. Contudo, em 2022, a categorização subiu para risco muito alto, posicionando o país junto com o Haiti e a República Dominicana. No ano passado, o Brasil havia voltado a registrar risco alto para pólio.
As coberturas vacinais contra a doença no Brasil tiveram uma diminuição ao longo dos últimos anos. Em 2022, a cobertura ficou em 77,19%, o que está bem distante da meta de 95%. No ano seguinte, o índice subiu para 84,63%.
RECOMENDAÇÕES
Em junho deste ano, a comissão emitiu recomendações ao Brasil, incluindo a investigação das causas das baixas coberturas vacinais contra a pólio. Dentre as possíveis razões listadas estão o acesso limitado a doses em áreas remotas, a escassez de doses em certas localidades e a hesitação ou desconfiança da população em relação ao imunizante.
A comissão também solicitou que o Brasil priorize a vacinação em municípios categorizados como em alto risco para pólio, começando as ações onde a taxa de imunização é inferior a 50%. Outra estratégia recomendada é a implementação de um sistema de recompensa para estados e municípios que atinjam as metas estabelecidas. Além disso, a entidade pediu que uma comissão nacional se reúna anualmente para tratar do tema.
Por fim, a comissão sugeriu que o Brasil realize um exercício de simulação para pólio envolvendo todos os setores relevantes, simulando uma resposta a um surto da doença no país. “Precisamos garantir que todas as nossas salas de vacina estejam abastecidas com insumos para que não percamos oportunidades”, afirmou Franciele, destacando ainda que os serviços de saúde precisam estar preparados para identificar possíveis casos da doença.
Este é um desafio que as autoridades de saúde no Brasil precisam enfrentar para garantir a proteção da população contra a poliomielite. A conscientização e ações efetivas são essenciais para combater o ressurgimento dessa doença potencialmente debilitante.