PCE dos EUA em março reforça expectativa de cortes de juros apenas no 2º semestre

A manutenção da inflação do índice de gastos de consumo (PCE) dos Estados Unidos em março no mesmo patamar de fevereiro, ainda que esteja num nível que gera incômodo para o Federal Reserve (Fed, o banco central americano), foi recebida com alívio pelos economistas.

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A avaliação é que, embora o indicador não tenha trazido a esperada confiança pela autoridade monetária na continuidade do processo de desinflação, pelo menos não piorou a ponto de colocar em risco algum corte de juros neste ano.

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O PCE mostrou alta de 0,3% no mês tanto no índice cheio como na leitura de seu núcleo, permanecendo assim na mesma tendência do mês anterior. No acumulado de 12 meses, no entanto, o indicador passou de 2,5% em fevereiro para 2,7% em março, com o núcleo se mantendo em 2,8%.

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Para Gustavo Sung, economista chefe da Suno Research, a boa notícia é que os dados divulgados nesta sexta-feira não excederam as expectativas do mercado. Por outro lado, a avaliação é que “eles não são suficientes para uma revisão das projeções do mercado sobre o início do corte de juros”.

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A Suno passou a projetar o primeiro corte apenas em setembro, mas, nu cenário pessimista, com uma inflação menos benigna, o afrouxamento monetário poderia ocorrer só em novembro.

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“Importante ressaltar que ainda o cenário é de incertezas sobre a evolução da inflação e do mercado de trabalho. O presidente do Fed, Jerome Powell, sinalizou em um evento que os dados recentes não deram maior confiança para o início dos cortes de juros e, portanto, o banco central continuará adotando uma postura cautelosa”, comenta.

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Danilo Igliori, economista-chefe da Nomad, analisa que os números da inflação cheia e de núcleo vieram marginalmente acima das projeções de mercado. “Os dados de março da inflação de consumo nos EUA não alteram o contexto delineado pelo Fomc ao longo dos últimos meses e não contribuem para gerar a confiança extra de que a inflação está de fato convergindo de forma sustentável para a meta de 2%.”

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Para ele, a leitura do PCE deve apenas confirmar a recalibragem das expectativas que ocorreram em abril e agora apostam que o início do ciclo de cortes de juros só irá acontecer no final do ano e que, provavelmente, ele será mais tímido, com uma redução de algo entre 0,25 ponto percentual ou 0,50 p.p. no ano.

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Igliori, no entanto alerta que os dados relativamente fracos do PIB do 1º trimestre, divulgados ontem, colocam no radar a possibilidade (ainda que remota) de um processo de estagflação sendo gestado. “Inflação resistente e atividade fraca é tudo que se quer evitar. Os dados dessa semana certamente aumentam as tensões nos dias que precedem a próxima reunião do Fomc na semana que vem”, analisa.

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Leonardo Costa, economista ASA Investments, por sua vez, destaca que a medida trimestral anualizada da inflação ainda mostra aceleração no núcleo, o que suscita preocupação para o Fed e tende a empurrar a aposta de cortes de juros para a segunda metade do ano.

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“A preocupação segue no dado de serviços, que voltou a subir no começo de 2024, aumentando o nível de preocupação do Fed, que deve reforçar a paciência e maior atenção aos dados futuros.”

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Observando os dados

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John Kerschner, Head de produtos securitizados dos EUA e gerente de portfólio da Janus Henderson, comenta que o início de 2024 tem sido em grande parte marcado pela remoção das estimativas de cortes excessivamente agressivos antecipados pelo Fed.

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Para ele, a postura “dovish” de Powell no final de 2023 foi confrontada com pressões inflacionárias persistentes e um ambiente de crescimento dos EUA mais resiliente e estável. “Leituras de inflação recentemente mais fortes do que o esperado deixaram os mercados nervosos, já que as taxas atingiram máximas de 2024 e estão exibindo extrema volatilidade. O Fed voltou a ‘observar os dados’ para informar sua decisão”, comenta.

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Com isso, cada nova leitura de inflação tem uma importância elevada, e o mercado precisava de uma leitura “em linha” para confirmar que o Fed não estava começando a perder essa batalha.

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Kerschner diz que a boa notícia é que o núcleo do PCE, a medida preferida do Fed para a inflação, confirmou que a persistência da inflação está se mantendo, mas não está acelerando como alguns temiam. “O fato concreto é que o Fed precisa ver leituras mensais com média na faixa de 0,15% a 0,20% para chegar à sua meta declarada de 2%, o que neste momento parece um pouco distante.”

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Embora a inflação ainda esteja muito alta para o conforto do Fed, se o progresso continuar, ainda pode ser razoável assumir um, talvez dois cortes em 2024. O sólido panorama de emprego, a atual força do crescimento dos EUA e a desaceleração, mas persistência, da inflação dão à equipe de especialistas da Janus Henderson confiança de que a paciência do Fed é a abordagem correta.”

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George Mateyo, chefe diretor de investimentos da Key Wealth, disse à CNBC que os relatórios de inflação divulgados nesta manhã não foram tão positivos quanto se temia, mas os investidores não devem ficar excessivamente ancorados na ideia de que a inflação foi completamente curada e que o Fed reduzirá as taxas de juros no curto prazo.

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“As perspectivas de cortes nas taxas permanecem, mas não estão garantidas. E o Fed provavelmente precisará de fraqueza no mercado de trabalho antes de ter confiança para cortar.”

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