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Exame de sangue detecta ressurgimento de câncer com 1 ano de antecedência

7 Min

Médicos britânicos conseguiram identificar o retorno de um câncer um ano antes dos exames tradicionais, em uma descoberta animadora para o combate à doença.

A equipe conseguiu rastrear no sangue sinais de câncer quando este era apenas um pequeno amontoado de células invisíveis a raio-X e tomografia.

Isso deve permitir aos médicos tratar o tumor mais cedo, o que também aumentaria as chances de curá-lo.

O estudo também pode levar a novas ideias para remédios contra câncer, após notar como DNA instável permite a rápida evolução do tumor.

A pesquisa focou em câncer de pulmão, mas os processos estudados são tão básicos que as descobertas devem poder ser aplicadas a outros tipos de câncer.

O câncer de pulmão é o que mais mata no mundo, e o principal objetivo do estudo era acompanhar o seu desenvolvimento — a ponto de se espalhar por todo o corpo.

Exame de sangue

Para verificar se um câncer pode estar voltando, os médicos precisam saber o quê exatamente têm de rastrear. Por isso, partiram de amostras de tumores de pulmões removidos durante cirurgias.

Uma equipe no Instituto Francis Crick, em Londres, analisou, então, o DNA defeituoso dos tumores para obter um “mapa genético” do câncer de cada paciente.

A cada três meses, eram realizados exames de sangue para verificar se pequenos vestígios do DNA do câncer teriam reaparecido.

Os resultados, divulgados na publicação científica Nature, mostraram que a recorrência do câncer pode ser identificada cerca de um ano antes do prazo normal de métodos atuais disponíveis na medicina.

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Os tumores costumam ter, em geral, um volume de cerca de 0,3 milímetros cúbicos quando são detectados por exames de sangue convencionais.

Esperança

Para Cristopher Abbosh, do Instituto de Câncer UCL, a descoberta é significativa.

“Nós podemos identificar pacientes para fazerem o tratamento mesmo quando eles ainda não têm qualquer sinal clínico da doença e também monitorar como as terapias estão evoluindo.”

“Isso representa uma nova esperança para combater o retorno do câncer de pulmão após a cirurgia, algo que acontece em cerca de metade dos pacientes”, afirmou.

Por enquanto, esse novo método tem sido eficiente ao alertar sobre a volta do câncer para 13 dos 14 pacientes que apresentaram reincidência da doença. E a descoberta ajudou também a identificar quem estava livre, sem indícios da doença.

Em teoria, seria mais fácil curar um câncer que ainda está muito pequeno, no início, do que fazê-lo quando ele já está grande e visível de novo.

No entanto, são necessários mais testes para confirmar a eficácia do método.

Chales Swanton, do Instituto Francis Crick, disse à BBC: “Nós podemos agora organizar testes clínicos para responder à questão fundamental — se você tratar a doença das pessoas quando não há evidências de câncer em uma tomografia ou em um raio-X, você terá mais chances de conseguir curá-la?”

“Nós esperamos que seja isso. Que se nós começarmos a tratar a doença quando existem apenas algumas poucas células cancerígenas no corpo, nós aumentaremos a chance de curar um paciente”, completou.

Janet Maitland, de 65 anos, é uma dos pacientes participando dos testes.

Ela viu o câncer de pulmão tirar a vida de seu marido e acabou diagnosticada com a doença no ano passado.

“Era meu pior pesadelo, o câncer de pulmão, então foi como se o meu pior pesadelo se tornasse realidade. Fiquei aterrorizada e devastada.”

Ela passou por cirurgia e teve seu tumor retirado — agora os médicos dizem que ela tem 75% de chance de ficar livre da doença pelos próximos cinco anos.

“Eu pensava que nunca mais iria melhorar e agora sinto como se estivesse vivendo um milagre”, afirmou.

Evolução

O exame de sangue é, na realidade, a segunda grande descoberta feita pelos cientistas envolvidos em um vasto projeto que pesquisa o câncer.

A primeira descoberta, considerada chave nas pesquisas, foi sobre o papel da instabilidade do DNA na reincidência do câncer.

Diversas amostras de 100 pacientes contendo 4,5 trilhões de pares de bases de DNA foram analisadas. O DNA é “empacotado” em conjuntos de cromossomos que contêm milhares de instruções genéticas.

A equipe no Instituto Francis Crick mostrou que os tumores que apresentavam “caos cromossômico” maior — a capacidade de remodelar facilmente grandes quantidades de DNA para alterar milhares de instruções genéticas — tinham mais chances de voltar.

Charles Swanton, um dos pesquisadores, disse à BBC: “Você tem um sistema ali em que uma célula cancerígena pode alterar seu comportamento rapidamente ganhando ou perdendo cromossomos ou partes de cromossomos.”

“É a evolução ‘bombada’”.

Isso permite que o tumor desenvolva resistência a remédios, a capacidade de se esconder do sistema imunológico e de se deslocar para outros tecidos do corpo.

‘Animador’

A primeira implicação da pesquisa será para o desenvolvimento de remédios — entendendo o papel-chave da instabilidade cromossômica, cientistas poderão achar formas de contê-la.

“Espero que sejamos capazes de desenvolver novas formas de limitar isso e que possamos reduzir a capacidade de evolução de tumores — e quem sabe até fazer com que eles parem de ‘se adaptar’”, observou Swanton.

Os cientistas dizem que só estão começando a entender as descobertas que serão possíveis por meio da análise do DNA de cânceres.

R7

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