O escândalo conhecido como “Farra do INSS” ganhou novos contornos com a investigação de Abraão Lincoln Ferreira da Cruz, presidente da Confederação Brasileira dos Trabalhadores de Pesca e Aquicultura (CBPA). Este líder sindical possui um histórico jurídico repleto de condenações e investigações que vão além dos descontos indevidos aplicados em benefícios previdenciários.
Em agosto de 2024, Abraão foi condenado por crime de caixa dois eleitoral, relacionado às eleições de 2014. O Ministério Público revelou que ele utilizou a conta bancária de uma secretária como “laranja” para movimentar recursos não declarados. O esquema envolveu saques realizados por seu filho e depósitos considerados atípicos, como R$ 86 mil provenientes de um policial militar e R$ 46 mil enviados pela sua própria esposa.
Em adição à condenação, a CBPA tornou-se alvo de um relatório da Controladoria-Geral da União (CGU), que destacou inconsistências graves na estrutura e no crescimento da entidade. Localizada em uma pequena sala comercial em Brasília e funcionando por apenas duas horas diárias, a confederação alega ter 757 mil associados, mesmo sem contar com funcionários registrados.
De acordo com a CGU, o crescimento da CBPA é estatisticamente inviável. Em 2023, a entidade cresceu de quatro para mais de 340 mil filiados em poucos meses. Para alcançar esse volume, seriam necessários quase 17,7 novos descontos por minuto, um ritmo considerado impossível para a estrutura atual.
As investigações também descobriram tentativas de inclusão indevida de descontos em benefícios de mais de 40 mil pessoas falecidas. Entre os aposentados que formalizaram reclamações relacionadas à CBPA, 99% afirmaram não ter autorizado qualquer tipo de desconto. Em dois anos, a entidade arrecadou impressionantes R$ 221,8 milhões.
Abraão Lincoln já havia sido preso em 2015 durante a Operação Enredados, acusado de liderar uma organização criminosa que comercializava licenças ambientais no então Ministério da Pesca. Em novembro de 2024, ele foi novamente detido, desta vez por falso testemunho durante depoimento à CPMI do INSS. Abraão negou ter um vínculo próximo com o tesoureiro da CBPA, Gabriel Negreiros, mas foi confrontado com imagens que mostravam Negreiros como padrinho de seu neto e com a revelação de um depósito de R$ 5 milhões feito por Abraão na conta pessoal do tesoureiro.
Ex-presidente do partido Republicanos no Rio Grande do Norte, Abraão mantém relações estreitas com diversos políticos e integrantes do alto escalão do INSS. A CBPA é mencionada nas investigações como uma das fontes pagadoras de Antonio Carlos Camilo Antunes, conhecido como “Careca do INSS”, que é apontado como um lobista central no esquema de corrupção.
As apurações da Polícia Federal e da CGU continuam em curso, impulsionadas por denúncias que indicam que a arrecadação dessas entidades associativas atingiu cerca de R$ 2 bilhões em um único ano. A situação revela uma complexa teia de interesses e irregularidades que ainda precisa ser totalmente desvendada.

