O tenente-coronel Mauro Cid revelou à Polícia Federal que advogados de réus envolvidos na tentativa de golpe de Estado em 2022, incluindo defensores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), tentaram obter informações sobre seu acordo de delação premiada através de aproximações com seus familiares.
Essas declarações fazem parte de um inquérito que investiga se os advogados dos investigados buscaram obstruir as apurações relacionadas ao movimento golpista, cujo objetivo era manter Bolsonaro no poder, mesmo após sua derrota nas eleições.
Atendendo a uma ordem do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, a Polícia Federal irá ouvir os advogados ligados ao ex-presidente por conta de evidências que sugerem obstrução da Justiça.
De acordo com Cid, a imagem apresentada por esses defensores como suposta prova de que ele teria discutido a delação em uma conta de rede social foi, na realidade, resultado de um vazamento. Ele negou qualquer envolvimento com o perfil “Gabrielar702” e afirmou não saber quem criou a conta.
O militar também negou ter tratado da colaboração com o advogado Eduardo Kuntz, que representa Marcelo Câmara, outro investigado no caso. Contudo, Cid confessou que recebeu, em maio de 2023, visitas de Kuntz e de Fábio Wajngarten, que atuava na defesa de Bolsonaro, enquanto estava detido.
Cid revelou que as abordagens não se restringiram a ele. Em seu depoimento, ele mencionou que advogados tentaram estabelecer contato constante com sua esposa, mãe e até com sua filha menor de idade. Esses contatos ocorreram, de acordo com ele, principalmente entre o segundo semestre de 2023 e o início de 2024.
“Ao analisar o telefone celular de sua filha, foram identificados contatos constantes entre os advogados Luiz Eduardo de Almeida Kuntz e Fábio Wajngarten com sua filha menor G.R.C, através dos aplicativos WhatsApp e Instagram”, destaca o relatório da PF.
Cid acusou Kuntz de explorar a ingenuidade da adolescente para tentar acessar informações sigilosas. “Ele estabeleceu esse contato para obter informações sobre o acordo de colaboração firmado por mim, com o intuito de obstruir as investigações em andamento”, afirmou à PF.
A investigação segue em curso e pode complicar a situação jurídica de aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro. A situação mostra como a defesa dos envolvidos na tentativa de golpe pode ter ultrapassado limites éticos ao tentar influenciar o resultado das investigações.