A delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid, que atuou como ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, pode ser comprometida com a apresentação de novos documentos ao Supremo Tribunal Federal (STF). O advogado Eduardo Kuntz, que defende Marcelo Costa Câmara, ex-assessor da Presidência, sustenta que Cid utilizou um perfil falso no Instagram para se comunicar com investigados, infringindo os termos de seu acordo de colaboração.
Na petição protocolada junto ao STF, o advogado menciona um perfil específico, identificado como @gabrielar702, que já havia sido citado por outros réus no inquérito. Segundo Kuntz, Mauro Cid teria empregado essa conta para enviar mensagens diretas, inclusive encaminhando uma imagem de visualização única com a frase: “Confirmando que sou eu”.
Durante seu depoimento ao STF no dia 9 deste mês, Cid foi questionado sobre a existência desse perfil. Ele negou ser o responsável pela conta, sugerindo que poderia ser da sua esposa: “Esse perfil… eu não sei se é da minha esposa, Gabriela é o nome da minha esposa”. Aproximadamente um dia após o depoimento, o perfil foi desativado.
Atendendo a um pedido do ministro Alexandre de Moraes, a Meta, empresa controladora do Instagram, deverá enviar ao STF todas as mensagens trocadas pelo perfil desde maio de 2023. Caso seja comprovado que Cid utilizou a conta, isso configuraria uma violação direta do acordo de delação, que veda o uso de redes sociais e o contato com outros alvos das investigações.
Em sua manifestação ao STF, o advogado Eduardo Kuntz detalhou que registrou a conversa com Cid como uma medida de precaução. “Foi tomado o cuidado de prosseguir com a conversa por escrito, de forma a não perder nada do conteúdo e, eventualmente, me defender, deixando claro que ele foi quem me procurou, e não o contrário”, afirmou.
As comunicações revelam que Cid expressou descontentamento com pressões durante os depoimentos à Polícia Federal. Em uma das mensagens atribuídas a ele, o tenente-coronel teria declarado: “Várias vezes eles queriam colocar palavras na minha boca. […] Eles toda hora queriam jogar para o lado do golpe. E eu falava para trocar porque não era aquilo que tinha dito”.
De forma oficial, Cid afirmou ao STF que as mensagens eram meramente “desabafos”. O conteúdo dessas conversas já havia sido divulgado pela imprensa, mas a identificação do interlocutor de Cid ocorreu apenas recentemente. Com base nas novas evidências, Kuntz solicita a anulação da colaboração premiada. “Com a leitura das mais de 50 páginas de conversas anexadas (…), já é possível concluir que o malfadado acordo de colaboração premiada firmado com o TC Cid não pode e nem deve prosperar, e, assim sendo, toda a sua prova derivada deve ser imediatamente desconsiderada”, enfatiza o advogado.