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Garnier se defende de acusações de golpe: “cumpri meu papel”

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O ex-comandante da Marinha, almirante Almir Garnier, declarou que atuou estritamente dentro de sua função institucional ao participar de reuniões no Palácio do Planalto. Estas reuniões, conforme alegações, teriam sido momentos em que o ex-presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, discutiu os resultados das eleições presidenciais de 2022 e um possível plano de golpe de Estado com os líderes das Forças Armadas e membros de sua equipe de governo.

“A Marinha possui uma hierarquia rigorosa. Seguimos à risca o estatuto militar, que prevê que um subordinado tem apenas o direito de solicitar, por escrito, uma ordem que considere manifestamente ilegal”, afirmou Garnier nesta terça-feira (10) ao ministro Alexandre de Moraes, durante o segundo dia de interrogatórios do Núcleo 1 da suposta trama golpista.

Ele se viu denunciado por suspeita de envolvimento na mencionada trama, mas negou as acusações atribuídas pela Procuradoria-Geral da República (PGR). Entre as acusações, está a suposta intenção de mobilizar o efetivo da Marinha para impedir que o candidato eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, assumisse a presidência em 1º de janeiro de 2023.

“Em minhas funções, sempre me ative às responsabilidades que me eram atribuídas”, complementou Garnier, refutando também a ideia de que Bolsonaro tenha considerado alguma forma de ruptura autoritária do processo democrático durante uma reunião ocorrida em 7 de dezembro de 2022.

“Discutimos vários tópicos, incluindo as preocupações do presidente com a segurança pública, que também eram as nossas. Haviam muitas pessoas insatisfeitas se manifestando em frente aos quartéis do Exército, o que poderia gerar dificuldades para a segurança pública, pois não se sabia a direção que esse movimento poderia tomar”, detalhou Garnier.

O almirante informou que, além de Bolsonaro, estiveram presentes na reunião o então ministro da Defesa, Paulo Sérgio, e o antigo comandante do Exército, general Freire Gomes, juntamente com assessores presidenciais, incluindo o então ajudante de ordens, Mauro Cid.

Conforme Garnier, foram discutidos alguns tópicos sobre a possibilidade de decretar uma GLO (Garantia da Lei e da Ordem), mas não houve apresentação de documentos que conferissem respaldo à proposta. “Não vi nenhuma minuta ou documento. Apenas assisti a uma apresentação em um computador, que falava sobre a pressão popular nas ruas, incluindo a insatisfação de pessoas nas portas dos quartéis e de caminhoneiros”, disse.

Ele também negou ter declarado que as tropas da Força Aérea Brasileira (FAB) estariam à disposição de Bolsonaro, conforme havia sido relatado pelo ex-comandante da Aeronáutica, brigadeiro Carlos Baptista Júnior, em depoimento à Polícia Federal.

“Não houve deliberações, e o presidente não abriu espaço para que nós falássemos”, garantiu Garnier, insistindo que Bolsonaro não mencionou a possibilidade de um golpe de Estado.

“Ele fez algumas considerações e expressou preocupações e análises sobre possibilidades, mas não apresentou uma ideia ou intenção de conduzir as coisas de uma certa maneira. A única preocupação que percebi como tangível e importante era a segurança pública, para a qual a GLO se apresenta como um instrumento adequado, dentro de certos parâmetros”, esclareceu.

No tocante às eleições presidenciais, Garnier indicou que não recebeu nenhuma informação que sugerisse a possibilidade de fraude no processo eleitoral ou problemas relacionados às urnas eletrônicas. Contudo, reiterou que “quanto mais transparentes forem os processos, maiores serão as garantias de que teremos transições pacíficas, o que desestimularia a necessidade de intervenção, como uma GLO”.

Interrogatórios

Até a próxima sexta-feira (13), o ministro Alexandre de Moraes, que é relator da ação penal do Núcleo 1 da trama golpista, irá interrogar presencialmente o ex-presidente Jair Bolsonaro, Braga Netto e outros seis réus acusados de fazer parte do “núcleo crucial” de uma trama destinada a impedir a posse do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva após os resultados das eleições de 2022.

Os interrogatórios fazem parte das últimas etapas do processo. A expectativa é que o julgamento, que decidirá pela condenação ou absolvição do ex-presidente e dos demais réus, aconteça no segundo semestre deste ano. Em caso de condenação, as penas podem ultrapassar 30 anos de prisão.

Com informações da Agência Brasil.

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