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Fim das parcerias improváveis: política e vaidade em jogo

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A tensão entre Donald Trump e Elon Musk atingiu um novo patamar nesta semana, com uma troca acalorada de ofensas nas redes sociais. Trump não hesitou em rotular Musk de “louco” e declarou que não tinha interesse em dialogar com o bilionário. Por sua vez, Musk sugeriu que o ex-presidente norte-americano deveria enfrentar um processo de impeachment e o associou às investigações envolvendo Jeffrey Epstein, o empresário acusado de liderar uma rede internacional de exploração sexual de menores. Este rompimento marca o fim de uma aliança conturbada entre dois influentes líderes do cenário político e econômico mundial, um fenômeno que é bastante comum na história, inclusive no Brasil.

Nos Estados Unidos, as rupturas entre presidentes e aliados que se tornam problemáticos não são uma novidade. Durante a administração Trump, por exemplo, o ex-presidente demitiu o diretor do FBI, James Comey, em 2017, após críticas e investigações sobre sua conduta. A relação de Trump com seu advogado pessoal Michael Cohen também se deteriorou quando este passou a colaborar com o inquérito do procurador especial Robert Mueller. Já na era de Barack Obama, a assessora Valerie Jarrett, que era conhecida como a “primeira-ministra não oficial”, viu sua influência diminuir ao longo do tempo. Esses conflitos internos são frequentemente o resultado de visões divergentes sobre poder, lealdade e imagem pública.

No Brasil, o fenômeno de rupturas e embates políticos é igualmente recorrente. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) teve uma relação conturbada com Antonio Palocci, seu ministro da Fazenda em 2003, cuja saída ocorreu em 2006 devido a denúncias de enriquecimento ilícito. A demissão de Palocci marcou o início de um período crítico para o governo petista. Da mesma forma, Michel Temer (MDB) enfrentou problemas com o então senador Romero Jucá, que resultaram na demissão deste último e em uma crise institucional. Recentemente, Jair Bolsonaro (PL) rompeu com Sergio Moro (União-PR), ex-juiz que se tornou senador, após acusações de interferência política na Polícia Federal, o que culminou na saída de Moro do Ministério da Justiça e Segurança Pública.

Esses conflitos revelam uma dinâmica fundamental da política: conselheiros e assessores podem ser valiosos ao ajudar a construir uma narrativa, mas também se tornam ameaças à estabilidade ao acumular poder ou divergir de seus líderes. Os embates refletem disputas de imagem, ideologia e sobrevivência no poder, frequentemente culminando em demissões públicas em busca de controle. No caso Trump e Musk, a briga também inclui interesses econômicos e tecnológicos. Musk criticou a proposta “One Big Beautiful Bill” de Trump, afirmando que ela prejudica as contas públicas, enquanto o ex-presidente ameaçou cortar contratos com Tesla e SpaceX.

Assim como ocorreu nos Estados Unidos, o Brasil também passou por rupturas semelhantes. A saída de Moro abalou os já frágeis alicerces do governo Bolsonaro. Enquanto isso, Lula tem se mantido firme, apesar das pressões, embora seja também alvo de disputas internas e crises de confiança. O elemento central dessas histórias é que a lealdade, embora importante, não pode se sobrepor ao controle. O poder se torna instável quando aqueles que compartilham a intimidade do gabinete se transformam em ameaças. Seja para manter contratos estaduais ou mercados globais, é apenas uma questão de tempo até que a proximidade se torne uma ameaça — e, então, a demissão se torna inevitável.

O choque entre Trump e Musk é mais um capítulo desse drama atemporal, em que a política é jogada com contratos, reputações e ambições. A expectativa é que, ao final, os sobreviventes busquem novos líderes e formem novas alianças — até que essas também se rompam.

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