Candeias: Mato, cachorro e lixo substituem fábricas no Centro Industrial de Aratu

Por Redação
6 Min

Foto:Correio

Lentamente, como se quisesse atrasar o fim da caminhada, um homem deixa a unidade da Ball Corporation no Centro Industrial de Aratu (CIA), em Candeias. Após dez anos de casa, ele foi um dos 70 demitidos da antiga Latapack, que em breve vai se tornar mais uma fábrica fechada no distrito industrial.

O trabalhador prefere não se identificar, porque sonha em ser recolocado em outra planta industrial da empresa – em Recife (PE) ou Manaus (AM). Ou, quem sabe, na que está sendo implantada no Paraguai, para onde os funcionários dizem que os equipamentos da fábrica baiana estão sendo transferidos.

“Foi o melhor emprego que eu tive na vida. O salário que eu recebia lá, não vou achar igual em lugar nenhum”, diz. Por isso, o auxiliar de produção diz que toparia, “sem dificuldade”, deixar sua terra natal. Caso não esteja entre os 18 que serão recolocados pela Ball, ele vai tentar a vida como motorista de Uber.

Se para o homem anônimo ainda há esperança de continuar a viver da atividade industrial, a saída da Ball deixa mais um espaço vazio na indústria baiana e ilustra, sem uma perspectiva clara de reversão neste momento, um fenômeno econômico chamado de desindustrialização – que é quando a atividade industrial é eliminada ou perde importância numa região.

Um levantamento da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb), com base em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra que em um intervalo de três décadas, entre 1985 e 2016, a participação da atividade industrial na economia baiana caiu de 42,3% para 23,7%. Quando se leva em conta apenas a indústria de transformação, aquela em que uma matéria-prima em um produto final, ou num intermediário para o uso de outra indústria, a queda registrada é de 25,5% em 1985 para 13,8% em 2016.

Num período mais recente, a Pesquisa Industria Anual (PIA), do IBGE, mostrou recentemente que a participação da Bahia no PIB industrial da região Nordeste caiu de 52,6% do total para 40%. Nacionalmente, o estado manteve o sétimo lugar, mas com uma queda na participação de 4,4% do total para 4%.

Numa volta pelo CIA, ainda é possível perceber a pujança da indústria baiana. Mas o distrito industrial não passa incólume às dificuldades das últimas décadas. Além das fábricas, os 250 milhões de metros quadrados (m³) de área expõem em galpões vazios, vias intransitáveis, algumas mal sinalizadas, o momento do setor. Por lá, fecharam as portas unidades da DOW (Cellosize e TDI), Alcan, Xerox e, no início deste ano, a Taurus Helmets. Para não ficar só em Aratu, é importante lembrar as unidades da Semp Toshiba, Rhodia, Du Pont e Papaiz, na Região Metropolitana (RMS). No interior, fecharam a Yazaki, em Feira de Santana e a Azaleia, em diversas cidades.

Os escombros da antiga Bahia PET, no CIA, hoje abrigam catadores de reciclagem. Muitos anos antes, ali funcionava uma fábrica para a reciclagem de Polietileno Tereftalato (PET), que chegou a empregar 100 pessoas, de acordo com notícia publicada pelo CORREIO em 2009. Perto dali, a sede de uma antiga fabricante de fios de nylon, a Banylsa, hoje é um pátio que guarda veículos que serão leiloados.

A Stepan, produtos químicos básicos e intermediários, fechou as portas há dois anos. Na época, demitiu 50 funcionários e levou todo o seu maquinário para outras unidades. Por lá, atualmente, apenas três trabalhadores se revezam na guarda do patrimônio, sempre com a companhia de dois vira-latas, que fazem as vezes de cães de guarda, informalmente. Entretanto, nem sempre foi assim, quem está há mais tempo lá pelo CIA conta que 700 pessoas chegaram a trabalhar naqueles galpões gigantescos quando ali funcionava uma fábrica da Bombril e, posteriormente da P&G.

Logo ali ao lado, outra fábrica fechada. Um cão de guarda, de pedigree, repousa dentro de seu cercado, enquanto três vira-latas fazem o seu trabalho. Longe, o vigilante caminha sem dar bola à reportagem.

O que é o CIA?
Complexo Industrial que reúne cerca de 140 empresas de diversos segmentos, fundado em 1967. Gera aproximadamente 13.530 postos de trabalho e fica localizado na Região Metropolitana de Salvador, nos municípios de Simões Filho e Candeias. Às margens da BR-324, está a 18 km da capital, 20 km da Refinaria Landulpho Alves e 25 km do Porto de Salvador.

Com informações do Correio da Bahia

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