
O Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA) transferiu o caso dos policiais militares envolvidos na ação que acabou na morte do artista plástico Manoel Arnaldo dos Santos, de 61 anos, mais conhecido como Nadinho, para a Vara da Auditoria Militar do Estado. A informação foi confirmada ao G1 nesta sexta-feira (5).
O caso ocorreu em Candeias, na região metropolitana de Salvador, em abril de 2018.
Segundo o TJ-BA, os três policiais, identificados como Edvaldo Nunes, Leandro Xavier e Dinalvo dos Santos, foram indiciados pela Polícia Civil por homicídio doloso. No entanto, no decorrer do processo, o Ministério Público da Bahia (MP-BA) entendeu que não houve dolo (intenção de matar) na ação, o que fez com que o caso fosse transferido para a Justiça Militar.
Segundo informações do TJ-BA, a decisão de mudar classificação do crime saiu no dia 9 de junho. Os três PMs, segundo a corporação, foram afastados das atividades na rua, mas ainda continuam com funções administrativas.
Ao G1, o filho do artista plástico, Arnaldo dos Santos Filho, disse que a família só tomou conhecimento da mudança de classificação do crime e da transferência da Justiça comum para a militar na quinta-feira (4), quando a filha da vítima esteve no fórum para se atualizar sobre o andamento do processo.
“Infelizmente, a justiça se mostra pesando mais para que tem mais e quem sobra é quem tem menos”, disse Arnaldo.
Filha de Nadinho, Maraísa Marinho também se pronunciou sobre a frustração com a novidade no caso.
“O sentimento que temos Agora é descrença, frustração, dor. Não entendo onde o assassinato do meu pai foi sem intenção, já que eles foram avisados quem morava naquela casa, e que nada tinha acontecido ali, já que ele morreu com um tiro nas costas dentro de casa. Não entendo como a vítima vira o culpado, não entendo como uma mentira vira verdade”, disse, em nota, Maraísa Marinho, filha do artista.
Caso
Quadros de Nadinho foram carregados durante protesto em Candeias — Foto: Juliana Almirante/G1 Quadros de Nadinho foram carregados durante protesto em Candeias — Foto: Juliana Almirante/G1
Quadros de Nadinho foram carregados durante protesto em Candeias — Foto: Juliana Almirante/G1
Nadinho foi morto em ação da Polícia Militar no dia 21 de abril do ano passado, dentro da casa onde morava e que usava como ateliê, em Candeias. Os PMs chegaram ao local e atiraram contra ele duas vezes. Ele foi atingido no braço e no peito.
Os policiais disseram ter recebido uma denúncia de que suspeitos estavam em rua próxima à casa do artista, a Segunda Travessa 31 de Março, na casa 15. No entanto, os agentes foram até o endereço errado, na casa do artista, localizada na Primeira Travessa 31 de março, número 11.
A versão dos policiais é de que o artista teria disparado, da janela, duas vezes contra os PMs, mas a arma teria falhado. Os policiais, então, dispararam contra ele, que não resistiu aos ferimentos e morreu.
A família do artista, no entanto, contesta a versão da polícia. Diz que Nadinho não tinha arma e que era uma pessoa de bem.
No dia 7 de junho, os policiais envolvidos na ação participaram de um reconstituição do caso, solicitada pela Corregedoria da Polícia Militar, que também investiga o ocorrido na esfera administrativa. Na ocasião, além dos policiais, participaram do procedimento peritos da Polícia Técnica e testemunhas. A família de Nadinho acompanhou a reconstituição da varanda da casa de um vizinho.