
Testemunhas de acusação do caso “Nadinho” foram ouvidas pela Corregedoria da Polícia Militar, na manhã desta quinta-feira (30), na 1ª audiência do processo adminstrativo disciplinar que vai decidir o futuro dos três policiais envolvidos na morte do artista plástico Arnaldo Filho, de 61 anos. A audiência foi realizada na 10ª CIPM, na cidade de Candeias, região metropolitana de Salvador.
O caso ocorreu no dia 21 de abril deste ano, no mesmo município. Segundo os familiares da vítima, policiais militares entraram na casa de Arnaldo, mais conhecido como “Nadinho”, em busca de um suspeito e já chegaram atirando no homem, que estaria desarmado. A Polícia Militar alegou que ele portava um revólver e disparou contra a guarnição, da janela de casa, mas a arma falhou.
Após morte de artista plástico por PM, moradores fazem caminhada com caixão em protesto e lotam missa
A investigação militar vai decidir se os policiais continuam na corporação ou serão afastados definitivamente da Polícia Militar. Os três PMs foram afastados das atividades nas ruas no dia 23 de abril.
A Polícia Civil concluiu o inquérito do caso e indiciou por homicídio doloso (quando há a intenção de matar) os soldados Edvaldo Nunes, Leandro Xavier e Dinalvo dos Santos, lotados na 10ª CIPM, também em Candeias. O Ministério Público (MP) ofereceu a denúncia à Justiça e a primeira audiência está marcada para o dia 14 de setembro no Fórum de Candeias.
A família do artista plástico esteve durante toda manhã, na frente do quartel da 10ª Companhia Indenpendente da Polícia Militar (CIPM/Candeias), para acompanhar o caso.
“A justiça vai ser feita. As pessoas vão testemunhar e vão falar a verdade. Porque nós pedimos a Deus para que ele oriente a cada um deles que estão lá dentro. Porque a gente precisa de uma resposta, que a polícia venha fazer justiça”, disse a viúva do artista, Maria das Graças dos Santos.
Versão da PM
Segundo a Polícia Militar, agentes que fazem parte da Operação Força Tática receberam um chamado via Centro Integrado de Comunicação (Cicom) informando que um homem havia invadido uma residência no bairro Santo Antônio.
Ao chegarem no local, os policiais teriam batido na porta da casa e o artista plástico teria aparecido em uma das janelas apontando uma arma de fogo contra eles. Segundo relato dos próprios policiais, ele teria apertado o gatilho da arma duas vezes, mas o revólver falhou. Os policiais atiraram contra ele no braço e no tórax.
Segundo a PM, ele foi imediatamente levado para um posto de saúde, onde foi constatada a morte. A polícia diz que a arma usada pelo homem, que teria sido apreendida após a ocorrência, era um revólver calibre 32 com seis cartuchos.
Luto
Um grupo de familiares e amigos do artista plástico, fez um protesto no dia 23 de abril, na cidade de Candeias, dois dias depois da morte da vítima.
O grupo saiu da ladeira de Barzinho, próximo à casa do artista, parou na BA-522 e chegou a fechar a rodovia por cerca de 10 minutos. Durante a caminhada, eles gritavam em defesa do artista ao dizer que ele não tinha arma – como alega a polícia – e que pintava quando foi morto.
“A arma era o pincel”, gritavam, vestidos de branco, levando cartazes pedindo justiça e quadros da vítima.
Uma das três filhas do artista, Maraisa Marinho, lembrou que ele admirava o trabalho de policiais e sempre ensinava aos filhos a respeitar a PM. A mulher afirmou que o pai nunca fez nada de errado.
“Era tão honesto que já tava tudo pago, o enterro dele estava pago. Meu pai sempre ensinou que a gente tinha que respeitar a polícia, porque a polícia era para defender a gente. Foi a polícia que tirou a vida dele. O pior é que ele estava dentro de casa. Eu fico pensando no que meu pai pensou na hora, recebendo o tiro e pensando: ‘o que eu fiz?'”, lamenta Maraisa, muito emocionada.
“Acabaram com a vida de meu pai, sem motivo nenhum. Você está em casa e a polícia entra, não diz nada e te mata”, afirma a filha. Ela contesta a versão policial de que o pai teria aberto a janela e disparado com um revólver, que teria falhado. “Meu pai nunca seria capaz de ter uma arma”, sustenta.