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Cientistas dos EUA anunciam ‘cura funcional’ de criança com HIV

5 Min

Eles dizem que é o 1° caso do tipo; bebê foi tratado logo após nascer.Vírus não foi erradicado, mas ficou indetectável nos exames comuns.
Pesquisadores dos Estados Unidos apresentaram neste domingo (3) o que, segundo eles, é o primeiro caso documentado de “cura funcional” de uma criança infectada pelo HIV.

A 'cura funcional' de criança com HIV
A virologista Deborah Persaud, coordenadora do estudo (Foto: AP Photo/Johns Hopkins Medicine)

A cura funcional ocorre quando a presença do vírus é tão mínima que ele se mantém indetectável pelos testes clínicos padrões e discernível apenas por métodos ultrassensíveis.

Ela é diferente da cura “por esterilização” (que pressupõe uma erradicação completa de todos os traços virais do corpo), mas significa que o paciente pode se manter saudável sem precisar tomar remédios por toda a vida.

O estudo foi realizado por cientistas do Centro da Criança Johns Hopkins, da Universidade do Mississippi e da Universidade de Massachusetts, e apresentado em um congresso médico em Atlanta.

A descoberta, segundo eles, pode ajudar a abrir caminho para eliminar a infecção pelo vírus em outras crianças.

Tratamento precoce
O bebê acompanhado pela pesquisa nasceu de uma mãe infectada pelo HIV. Ele começou a receber um tratamento com antirretrovirais, os remédios usados contra esse problema, 30 horas após o nascimento.

O procedimento usado pelos médicos foi diferente do que é aplicado atualmente nesse tipo de caso. Normalmente, recém-nascidos de alto risco — filhos de mães com infecções pouco controladas ou que descobrem o HIV na hora do parto – recebem os antirretrovirais apenas em doses profiláticas até as seis semanas de vida. As doses terapêuticas só começam se e quando a infecção é diagnosticada.

No caso da criança do estudo, que foi tratada a partir das primeiras 30 horas de vida, exames mostraram a diminuição progressiva da presença viral no sangue, até que atingiu níveis indetectáveis 29 dias após o nascimento.

O tratamento continuou até os 18 meses de idade. Dez meses depois de parar de tomar os remédios, a criança passou por repetidos exames. Nenhum deles detectou a presença de HIV no sangue.

Exames que detectam anticorpos específicos do HIV, que são a indicação clínica da infecção pelo vírus, também foram negativos.

Mecanismo
Para os pesquisadores, a rápida administração do tratamento provavelmente levou a criança à cura porque deteve a formação de reservatórios difíceis de serem tratados – células inativas responsáveis por reiniciar a infecção na maioria dos pacientes com HIV semanas depois de parar o tratamento.

“A rápida administração da terapia antirretroviral a recém-nascidos pode ajudar crianças a ‘limparem’ o vírus, alcançando uma remissão de longo prazo e não precisando fazer mais tratamento”, disse a coordenadora da pesquisa, a virologista Deborah Persaud, M.D.

Segundo os pesquisadores, este caso particular pode mudar o tratamento padrão de recém-nascidos de alto risco, mas só no futuro. Eles recomendam cautela e dizem que não têm dados suficientes para recomendar mudanças imediatas, antes que outros estudos sejam feitos.

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Segundo eles, um único caso de cura por esterilização foi reportado até hoje, com um homem HIV positivo tratado com um transplante de medula óssea para leucemia. A medula veio de um doador com uma rara característica genética que deixa algumas pessoas resistentes ao HIV, e o benefício foi transferido para o receptor.

Esse complexo tratamento, no entanto, não é factível de ser aplicado nos 33 milhões de pessoas ao redor do mundo infectadas pelo HIV.

Os pesquisadores também afirmam que, apesar da esperança que esse novo estudo pode trazer a recém-nascidos infectados, a prevenção da transmissão do vírus de mãe para filho deve continuar a abordagem principal.

 G1
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