Talento, sucesso, brigas e polêmicas marcaram a vida de Chorão

Por Redação
8 Min

A morte precoce aos 42 anos põe fim a uma trajetória de muito sucesso e muita polêmica

Luana Rocha

Continua depois da Promoção

Intenso e polêmico, Chorão, o vocalista e líder do Charlie Brown Jr., uma das principais bandas do Brasil, tinha uma atitude rock’n’roll no palco e nas relações pessoais. Não foi diferente no momento da sua morte.

Na madrugada de ontem, aos 42 anos, foi encontrado no seu apartamento em São Paulo num cenário de caos, descrito pela polícia como “sem condições para moradia, seja pela falta de higiene e ausência de móveis”, encerrando uma trajetória de sucesso, brigas e excessos.

Charlie Brown Jr. em sua última apresentação no Festival de Verão, em 2011
Charlie Brown Jr. em sua última apresentação no Festival de Verão, em 2011

Alexandre Magno Abrão nasceu em São Paulo, mas foi em Santos, litoral paulista,  onde encontrou parceiros para desenvolver suas maiores paixões: skate e rock.

Freestyle
O cantor teve uma infância difícil, decorrente da separação dos pais, deixando a escola ainda na sétima série, com apenas 14 anos. Ganhou o apelido Chorão ainda novo, quando não sabia andar de skate, limitando-se a observar os mais velhos que pediam para ele “parar de chorar”.

Na década de 80, a vontade virou profissão, quando foi vice-campeão paulista na categoria freestyle. “Chorão tirou dinheiro do bolso para promover duas edições do circuito nacional. O skate está de luto”, disse Ed Scander, presidente da Confederação Brasileira de Skate.

A sorte de Chorão começou a mudar com a formação do CBJr, em 1992, e o primeiro álbum do grupo, em 1997. Em 15 anos de carreira, a banda

lançou dez CDs, seis DVDs e vendeu mais de 5 milhões de cópias.

Em 2004, Tamo Aí na Atividade foi premiado com o Grammy Latino como melhor álbum de rock brasileiro, o que se repetiu em 2010 com Camisa 10 Joga Bola Até na Chuva.

Em 2012, o grupo lançou o álbum ao vivo e DVD Música Popular Caiçara. A morte inesperada do cantor e compositor também deixou uma incógnita no futuro da banda, que estava de férias e iria retornar aos palcos dia 22.

Brigas
A personalidade fortíssima do artista também lhe rendeu algumas brigas e confusões, incluindo com os próprios integrantes do CBJr. O pior momento aconteceu em 2005, quando o guitarrista Marcão, o baterista Renato Pelado e o baixista Champignon deixaram o grupo, que estava no auge comercial.

Em 2011, Marcão e Champignon voltaram a integrar a banda, mas isso não significou o fim das polêmicas. Em 2012, em um show em Apucarana (PR), Chorão deu uma bronca pública no baixista, dizendo que ele deveria “ficar grato” por ter sido aceito de volta após tê-lo acusado de roubar dinheiro do grupo. Duas semanas depois, ambos divulgaram um vídeo no YouTube selando as pazes. “Graças a Deus, restabelecemos a amizade”, afirmou o baixista após a morte do cantor.

"Graz", ex-mulher de Chorão (à esq.) e Marcelo Camelo após agressão em 2004 (à dir.)

Para o cantor Marcelo Camelo, dos Los Hermanos, as agressões deixaram o campo verbal e partiram para o físico.  Chorão deu uma cabeçada e um soco no olho de Camelo no aeroporto de Fortaleza, em 2004. Chorão teria tirado satisfações de Camelo sobre declarações que ele fez sobre a banda santista em uma entrevista à imprensa.  Em outro momento, Chorão foi expulso de um voo que ia para Manaus, em 2008. Ele  foi acusado pela Gol de ter se recusado a desligar um aparelho eletrônico e xingado a tripulação.

Roteirista
Em 2007,  produziu e assinou o roteiro do filme O Magnata, dirigido por Johnny Araújo, que representava também um pouco do estilo musical do cantor do CBJr:  adolescente, skate rock e neopunk californiano com pitadas de rap e ska.

O ator Paulo Vilhena, amigo de Chorão, protagonizou o filme - um fracasso de bilheteria - no papel de um garoto rico, rebelde e prepotente que “conhecia o preço de tudo, mas não o valor de nada”, perfil muito criticado nas letras do compositor.

Como empresário, Chorão viabilizou a realização de grandes eventos de skate no Brasil, além de manter o Chorão Skate Park em Santos. Na Bahia, ele também participou da edição do Campeonato Nacional de Skate em 2008, em Madre de Deus, região metropolitana de Salvador. No litoral paulista, ele construiu o Chorão Skate Park, uma pista indoor (em local fechado) para os praticantes do esporte.

Opinião: Autenticidade e sintonia com uma geração
Por Hagamenon Brito

Alexandre Magno, o carismático Chorão, era meu brother. Foi empatia imediata: nos conhecemos numa festinha na antiga sede da gravadora EMI/Virgin, em Botafogo, no Rio, em 1997 – o CBJr havia acabado de lançar seu primeiro álbum e ele contava, entre risos e goles de cerveja, que tinha viajado de avião pela primeira vez, na ponte SP-Rio.

Ao longo dos anos, fomos nos encontrando (quase) sempre que ele vinha à Bahia (onde tinha um dos seus melhores amigos, o empresário Caribé), tomando todas nos camarins dos shows, saindo eventualmente pra balada e falando não só de histórias de rock (como a “inimizade” entre Marcelo Nova e eu por causa de críticas), mas de filhos, planos, doideiras...

Chorão tinha um temperamento difícil, mas eu gostava disso, dele ser politicamente incorreto em um meio – o pop e rock nacional – onde todos passaram a ser bons meninos demais, amigos de todos (mas falando mal pelas costas). Comigo, no entanto, Chorão sempre mostrou o melhor de si: carinho, admiração, brodagem... e até elogio público em show (eu falava: “Olha o mico – um vocalista bad boy elogiando um crítico e oferecendo música para ele diante da multidão?”) e convite especial para ir ao seu casamento em Santos, que acabei não indo e recebendo um carão.

O homeboy Alexandre Magno marcou toda uma geração de fãs e de novos intérpretes no rock nacional com seu estilo skate rock, uma mistura de punk californiano +  rap + ska reggae + funk.  Nenhuma outra banda do Brasil, entre 1997 e 2005 (o auge criativo de Chorão), teve um discurso tão sincero, com testosterona e em sintonia com as ruas e os teens como o CBJr.   Com a morte de Chorão, o rock brasileiro atual fica ainda mais tedioso e bem comportado.

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