O Legado do Real: Trinta Anos de Transformações Econômicas no Brasil
Em 1º de julho de 1994, o Brasil deu um passo ousado ao adotar o Real, uma moeda que simbolizava a esperança de estabilidade econômica após décadas de hiperinflação. Naquele momento, uma nota de R$ 1, então uma raridade verde, representava não apenas um valor monetário, mas a possibilidade de um futuro financeiro mais previsível. O economista Charles Mendlowicz, sócio da Ticker Wealth e reconhecido como Top 1 Influencer de Investimentos pela ANBIMA, recorda a angústia das famílias que, antes da implementação do Real, corriam aos mercados no dia do pagamento, temendo que o valor do dinheiro evaporasse em questão de horas. “O Real trouxe algo que o brasileiro tinha perdido: previsibilidade”, afirma Mendlowicz.
Entretanto, após três décadas, o Brasil enfrenta um cenário econômico que, embora livre da hiperinflação, traz à tona um sentimento de que a vida está mais cara. Para ilustrar essa realidade, dados do Banco Central revelam que para ter o mesmo poder de compra de R$ 1 em julho de 1994, seria necessário ter aproximadamente R$ 9,15 em dezembro de 2025. O aumento do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de mais de 700% durante esse período contrasta com um crescimento salarial estagnado, fazendo com que a sensação de empobrecimento se torne clara para a população.
A produtividade do trabalho no Brasil, segundo Mendlowicz, tem permanecido estagnada. Entre 1995 e 2024, a produtividade por hora trabalhada cresceu apenas 0,8% ao ano, resultando em um avanço acumulado de apenas 26% em quase 30 anos. Em contrapartida, a renda média do brasileiro não acompanhou o aumento dos preços, resultando em um descompasso que torna cada vez mais difícil para as famílias manterem seus padrões de consumo.
Além disso, a inflação de serviços, que inclui educação, saúde e aluguel, tende a superar o aumento geral do IPCA. O último relatório mostrou que os preços dos serviços variaram entre 5,37% e 6,56%, enquanto a inflação geral foi de 4,46%. Esses gastos rígidos consomem uma parte cada vez maior do orçamento familiar, limitando o espaço para outras despesas.
Mendlowicz destaca que o aumento dos preços é um fenômeno natural em qualquer economia, mas o Brasil vive uma distorção. A combinação de inflação alta, salários estagnados e baixa produtividade gera um cenário em que a sensação de progresso é ofuscada pela realidade de um empobrecimento crescente. “O resultado é a perda de poder de compra pura e simples”, conclui.
O legado do Real, portanto, vai além da simples adoção de uma nova moeda. Ele representa uma luta contínua por dignidade financeira e uma busca por soluções que possam trazer estabilidade e crescimento real ao Brasil. Em um momento em que a sociedade se pergunta sobre o futuro econômico, as lições do passado se tornam cada vez mais relevantes.
Com informações do InfoMoney
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