Brasil e as Agências de Classificação: Uma Visão Crítica
Em entrevista ao jornal Valor Econômico na última quinta-feira (18), o secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, fez declarações contundentes sobre a avaliação do Brasil pelas agências de classificação de risco. Para ele, a “penalização econômica” imposta a nosso país não apenas “não faz mais sentido”, como também não reflete a realidade atual dos fundamentos econômicos brasileiros.
Ceron reconheceu a fragilidade fiscal do Brasil, mas ressaltou que, desde 2021, o PIB per capita tem apresentado crescimento em torno de 3%. Ele questionou o critério adotado pelas agências, especialmente pela S&P e a Fitch, que impõem restrições ao Brasil devido ao baixo crescimento do PIB per capita entre 2015 e 2019. “Outros países que expandiram menos do que nós não sofrem punições semelhantes”, afirmou.
Atualmente, o Brasil encontra-se a dois degraus abaixo do grau de investimento na S&P e na Fitch, e um nível abaixo na Moody’s. O governo, sob a gestão do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, havia estabelecido a meta de recuperar o investimento até 2026, mas Ceron admitiu que esse objetivo não será alcançado durante o atual governo. As expectativas agora apontam para uma revisão mais significativa apenas em 2027, após o período eleitoral.
Ceron também enfatizou que, apesar da classificação negativa, os mercados já precificam o Brasil como se tivesse grau de investimento. Ele citou os Credit Default Swaps (CDS) como um termômetro de risco-país, apontando que o spread brasileiro é inferior ao da Colômbia, que já possui o selo de investment grade. “Tenho dificuldade de acreditar que milhares de agentes de mercado estejam precificando errado e apenas as agências estejam certas”, destacou.
Ademais, ele abordou o impacto dessa desatualização nas classificações sobre o acesso ao financiamento externo, não apenas para o governo, mas também para empresas privadas. “Muitos fundos institucionais não podem investir em países sem grau de investimento. Isso restringe o acesso a funding privado e limita a profundidade do mercado”, explicou Ceron.
Ao fazer uma comparação com outros países, ele mencionou a Índia, que possui déficits elevados, mas ainda assim mantém notas de crédito mais altas devido ao seu dinamismo econômico. Para Ceron, a recuperação do grau de investimento está condicionada a um reforço da credibilidade das regras fiscais e da trajetória da dívida pelo próximo governo. “O caminho está preparado. Avançamos nas notas, mas não conseguimos chegar lá. Com mais sinalizações fiscais, vejo boas possibilidades de materialização desse quadro”, concluiu.
Essa análise de Ceron levanta questões importantes sobre a dinâmica entre as agências de classificação e a realidade econômica do Brasil, destacando a necessidade de uma reavaliação das métricas utilizadas e a urgência de políticas que promovam a estabilidade e o crescimento do país.
Com informações do InfoMoney
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