Uma nova patente brasileira propõe uma maneira inovadora de aproveitar resíduos da colheita de milho para gerar etanol, um combustível sustentável. A proposta vem em um momento crucial, considerando que, para cada tonelada de milho colhida no Brasil, mais que o dobro de toneladas vira resíduos.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a produção de milho no Brasil em 2024 é estimada em 131,7 milhões de toneladas. Isso significa que, para cada tonelada colhida, aproximadamente 2,3 toneladas se tornam resíduos. No entanto, parte desses resíduos pode ser reciclada, ao invés de ser descartada.
A patente em questão é o Biorreator de Palha de Milho, que visa utilizar os resíduos da produção de milho para gerar etanol por meio de uma cadeia de reações químicas envolvendo o bagaço da cana-de-açúcar. A ideia por trás desse processo inovador é aproveitar materiais que seriam descartados, transformando-os em uma fonte de combustível sustentável.
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A Dra. Maria Polizeli, professora da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FFCL) da Universidade de São Paulo (USP) em Ribeirão Preto, explicou o funcionamento do biorreator. Ela destacou que o sistema de cultivo envolve o crescimento de um fungo isolado no laboratório da USP em conjunto com um fungo chamado Mycothermus thermophilus.
Os fungos utilizados no biorreator possuem uma faixa de temperatura semelhante, o que permite que cresçam juntos na mesma cultura. Essa cultura é composta pela palha de milho residual da produção do alimento, que é aproveitada pelo biorreator. Os componentes (fungos e palha de milho) atuam como indutores da produção de enzimas capazes de degradar a celulose e hemicelulose.
A decomposição completa das enzimas resulta na formação de glicose, que é fermentada por leveduras para gerar o etanol. Segundo a Dra. Maria Polizeli, além de produzir etanol, as enzimas também podem gerar outros tipos de biomassa, como ácido lático e bioplásticos. Isso torna o processo não apenas sustentável, mas também ecologicamente benéfico ao aproveitar resíduos industriais que, de outra forma, seriam descartados.
A patente do Biorreator de Palha de Milho já foi registrada no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), porém, seu desenvolvimento ainda não atingiu a fase de mercado. A escalada da capacidade do biorreator para níveis industriais requer investimentos em equipamentos. É fundamental a expansão e implementação desse projeto inovador para potencializar sua contribuição no setor de energias renováveis.
Em suma, a proposta de transformar resíduos da colheita de milho em etanol por meio do Biorreator de Palha de Milho representa um avanço significativo no cenário de combustíveis sustentáveis no Brasil. Com a eficiência desse processo, é possível não apenas reduzir o desperdício de materiais, mas também contribuir para a preservação do meio ambiente e o avanço da economia verde. Este é um grande passo rumo a um futuro mais sustentável e inovador.