Desvendando a História do Cacau através de Cerâmicas Antigas
Cientistas estão desvendando os mistérios da domesticação e uso inicial do cacau, a fonte do chocolate, graças aos resíduos detectados em cerâmicas antigas da América do Sul e Central.
Estudos recentes mostraram a rápida disseminação do cacau por rotas comerciais após sua domesticação há mais de cinco milênios no Equador. Os pesquisadores rastrearam a chegada do cacau à costa noroeste do Pacífico sul-americano e sua posterior expansão até a América Central e México, 1.500 anos depois.
A árvore tropical Theobroma cacao produz sementes de cacau em grandes vagens, que são torradas e transformadas em diversas delícias de chocolate. Nas épocas antigas, o cacau era consumido principalmente como uma bebida ou ingrediente em alimentos diversos.
Um estudo publicado na revista Scientific Reports revelou a domesticação do cacau há cerca de 5.300 anos no Equador, com base em evidências encontradas em cerâmicas no sítio arqueológico de Santa Ana-La Florida. Essas descobertas ampliam o conhecimento sobre a disseminação do cacau entre 19 culturas pré-colombianas.
Os pesquisadores analisaram mais de 300 cerâmicas pré-colombianas em busca de resíduos de DNA de cacau e compostos químicos relacionados, como cafeína. Cerca de 30% das cerâmicas continham evidências de cacau, indicando um uso mais amplo do produto nessas culturas antigas do que se pensava anteriormente.
O DNA antigo encontrado nas cerâmicas revelou que várias culturas cruzaram árvores de cacau para se adaptar a novos ambientes. A geneticista molecular Claire Lanaud, autora principal do estudo, destacou a complexidade do processo de domesticação do cacau nas antigas culturas da América do Sul.
Segundo Lanaud, a mistura genética observada indica interações significativas entre povos da Amazônia e da costa do Pacífico. A disseminação do cacau da Alta Amazônia para a Mesoamérica envolveu redes político-econômicas vastas e interconectadas, de acordo com os pesquisadores.
O arqueólogo Francisco Valdez, coautor do estudo, ressaltou que a origem do cacau e sua domesticação ocorreram na Alta Amazônia, não na Mesoamérica como se acreditava anteriormente. Os contatos marítimos e internos foram cruciais para a rápida dispersão do cacau pela região.
Além de seu uso na fabricação de chocolate açucarado, o cacau foi uma fonte de energia alimentar e medicinal para os povos ameríndios. Valdez destacou as diversas formas de utilização do cacau, como alimentos sólidos e líquidos, antisséptico e medicinal para inflamações na pele e nos músculos.
Em resumo, as descobertas obtidas a partir das cerâmicas antigas estão fornecendo novas perspectivas sobre a história da domesticação e uso do cacau na América do Sul e Central. O estudo destaca a importância do cacau nas antiga culturas pré-colombianas e sua influência na disseminação de costumes, tecnologias e produtos ao longo dos milênios. A jornada do cacau desde sua domesticação até se tornar um dos produtos mais apreciados e consumidos do mundo continua a surpreender e encantar pesquisadores e amantes de chocolate em todo o globo.