Descoberta de Vômito Fossilizado Revela o Primeiro Pterossauro Filtrador dos Trópicos

Por Redação
4 Min

Descoberta de Novo Pterossauro Filtrador na Bacia do Araripe

Cerca de 110 milhões de anos atrás, pequenos pterossauros, com aproximadamente o tamanho de uma gaivota, foram consumidos por um grande predador enquanto buscavam alimento em um lago ou rio. Esse evento resultou na regurgitação de seus crânios e de quatro peixes, agora fossilizados, na bacia do Araripe, uma região costeira que abrange partes dos estados do Piauí, Ceará e Pernambuco.

A Descoberta Inesperada

Em 2024, pesquisadores descobriram, no material regurgitado e armazenado em um museu, a primeira espécie de pterossauro filtrador dos trópicos. O estudo foi publicado na revista Scientific Reports, e a nova espécie foi nomeada Bakiribu waridza, que significa “boca de pente” na língua kariri.

Rubi Vargas Pêgas, que realiza pós-doutorado no Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo, destaca que a descoberta é surpreendente, uma vez que quase 30 tipos de pterossauros já haviam sido catalogados na região, mas nenhum deles era filtrador.

Características dos Pterossauros Filtradores

Os pterossauros filtradores apresentavam dentes finos e próximos, semelhantes a cerdas, utilizados para filtrar pequenos organismos aquáticos, como crustáceos. Assim, eles eram adaptados a ambientes lacustres ou fluviais, em contraste com o ambiente marinho predominante durante o período da bacia do Araripe.

A descoberta do Bakiribu waridza é significativa, pois oferece uma nova perspectiva sobre a diversidade de pterossauros na região, que era um ambiente restrito, medindo apenas 160 km de extensão leste-oeste e 30 a 50 km no sentido norte-sul.

Importância do Regurgitato

O “regurgitálito”, ou vômito fossilizado, apresentou sinais de desgaste nos ossos, indicando a ação de sucos gástricos, além de quatro peixes bem preservados. A paleontóloga Aline M. Ghilardi, que coordenou o estudo, observou que todos os restos estavam na mesma direção, o que sugere que o predador engoliu as presas pela cabeça.

O predador mais provável que consumiu o Bakiribu e os peixes é um espinossaurídeo, como o Irritator challengeri, que tinha tamanho suficiente para ingerir tanto os pterossauros quanto os peixes. Alternativamente, um pterossauro maior, o Tropeognathus mesembrinus, também poderia ser um candidato, embora fosse menos provável.

Importância da Pesquisa e Repatriação

O Bakiribu waridza pertence à família Ctenochasmatidae, que até então incluía espécies descritas apenas na Europa, leste da Ásia e sul da América do Sul. A identificação dessa nova espécie enriquece o conhecimento sobre a evolução dos pterossauros.

O fósseis foi encontrado no acervo do Museu Câmara Cascudo, e a descoberta foi feita por William Bruno de S. Almeida durante um levantamento de fósseis de peixes. O artigo sobre a nova espécie pode ser acessado aqui.

Além disso, a pesquisa incorporou um viés ético e decolonial, buscando garantir a preservação da peça no território de origem. Ghilardi foi uma das responsáveis pela repatriação do dinossauro Ubirajara jubatus, que voltou ao Cariri em 2023 após ser descrito com base em um fóssil obtido ilegalmente.

Essa nova descoberta não só amplia o entendimento da diversidade de pterossauros na bacia do Araripe, mas também reforça a importância de manter a integridade dos registros fósseis e a ética nas pesquisas paleontológicas.

Informações da Agência FAPESP

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