Bananas da Região do Desastre de Mariana Apresentam Elementos Tóxicos Acima dos Limites da FAO

Por Redação
4 Min

Cientistas das áreas de geoquímica de solos, engenharia ambiental e saúde, vinculados à Universidade de São Paulo (USP), Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e Universidade de Santiago de Compostela (Espanha), avaliaram os riscos de consumo de banana, mandioca e polpa de cacau cultivadas em solos impactados pelos rejeitos de mineração de ferro no estuário do rio Doce, em Linhares (ES). Essa região foi afetada desde o rompimento da barragem de rejeitos de Fundão (MG) em novembro de 2015.

Contaminantes e Riscos à Saúde

Os pesquisadores identificaram concentrações de cádmio, cromo, cobre, níquel e chumbo associadas aos óxidos de ferro, principais constituintes do rejeito. Um risco significativo à saúde foi observado, especialmente para crianças menores de seis anos, relacionadas ao consumo das bananas cultivadas em solos contaminados.

O grupo vem estudando os impactos do desastre há anos. A primeira amostragem ocorreu apenas sete dias após o rompimento da barragem. O objetivo principal passou a ser compreender se essa contaminação representa um risco à saúde humana.

Pesquisa e Metodologia

Um artigo publicado na Environmental Geochemistry and Health aborda como as plantas absorvem os elementos potencialmente tóxicos (EPTs) dos rejeitos, acumulando-os em partes comestíveis. O estudo é parte do doutorado de Amanda Duim na Esalq, que já resultou em várias publicações e prêmios.

Os trabalhos do grupo tiveram apoio da FAPESP, incluindo bolsas de pós-doutorado e auxílios à pesquisa. A metodologia utilizada envolve a análise detalhada de solo e planta, além do monitoramento da passagem dos contaminantes para a água e depois para as plantas.

Resultados Obtidos

Os resultados indicaram que na banana e na mandioca, todos os EPTs, exceto o cromo, se acumularam mais nas raízes e tubérculos. No cacau, foram observadas altas concentrações em partes aéreas. As concentrações de cobre e chumbo na polpa do fruto excederam os limites estabelecidos pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).

Análise de Risco

Os pesquisadores calcularam o Quociente de Risco (QR) e o Índice de Risco Total (IRT) para avaliar os riscos associados ao consumo das culturas. Apesar de muitos IRTs terem ficado abaixo do nível de risco (menor que 1), a banana apresentou resultados preocupantes para crianças, superando o limite, principalmente devido à alta concentração de chumbo.

Implicações de Saúde a Longo Prazo

O grupo alerta sobre os riscos cumulativos associados ao consumo de alimentos cultivados em solos contaminados. A longo prazo, a exposição contínua pode levar a riscos carcinogênicos, com possíveis danos ao DNA, aumentando a incidência de cânceres variados. A pesquisa sublinha a importância de monitorar a absorção e metabolização desses contaminantes pelo organismo humano.

O artigo pode ser acessado através do link: From tailings to tables: risk assessment of potentially toxic elements in edible crops cultivated in mine tailing impacted soils.

Informações da Agência FAPESP

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