O Brasil tem o potencial de se transformar em um grande jogador no mercado global de crédito de carbono, similar ao papel da Arábia Saudita no setor petrolífero do século 20. Contudo, para atingir esse objetivo, é crucial investir em tecnologia e desenvolver estratégias eficazes para quantificar o carbono negociado.
Essa perspectiva foi discutida pelo professor da Universidade de São Paulo (USP), Pedro Brancalion, durante o evento FAPESP Day Uruguay, em Montevidéu. Ele compartilhou os resultados de projetos voltados para fortalecer o mercado de crédito de carbono no Brasil. Um exemplo notável é uma nova equação que estima a biomassa acima do solo, aumentando em 30% os créditos de carbono oriundos de processos de restauração florestal na Mata Atlântica.
Brancalion destacou a relevância da nova tecnologia: “Imagine uma empresa que cria gado para produzir carne, e de repente aumentamos a produção em 30% sem custo adicional. É isso que estamos oferecendo ao setor de restauração de carbono: uma quantificação mais precisa.”
### Desenvolvimento de Nova Equação para Créditos de Carbono
Durante sua apresentação, Brancalion explicou como foi desenvolvida a nova equação. Com base em 22 anos de dados de um plantio de restauração, foram realizados cortes em árvores para mensurar a quantidade de carbono armazenado. A equação proposta considera árvores a partir de 5 centímetros de diâmetro, incluindo espécies menores que são frequentemente negligenciadas. Isso a diferencia da equação de Jérôme Chave, que foca em árvores maiores e é mais adequada para florestas maduras.
### Importância da Mensuração de Carbono
A precisão na quantificação de carbono é fundamental para o sucesso do mercado de créditos de carbono. Sem uma robusta base de dados, investidores hesitam. Brancalion comparou a situação do Brasil no mercado de carbono ao papel da Arábia Saudita no petróleo: o Brasil possui vastas áreas florestais e tecnologia, sendo potencialmente o maior sumidouro de carbono do mundo. No entanto, isso requer avanços tecnológicos para acessar essa riqueza.
### Tecnologias Inovadoras: A Torre de Fluxo
Uma das iniciativas mencionadas foi a instalação de uma torre de fluxo em Itatinga, que avalia os fluxos de carbono na floresta em tempo real. Essa tecnologia permite entender o balanço líquido de carbono, considerando não apenas árvores, mas todo o ecossistema, incluindo o solo. Isso ajuda a detectar mudanças climáticas e eventos ambientais que afetam a capacidade de absorção de carbono.
### Projeto Temático NEWFOR
O Projeto Temático NEWFOR, coordenado por Brancalion, visou construir uma base de dados abrangente sobre reflorestamento tropical. Este projeto gerou mais de 800 parcelas de pesquisa ao longo da Mata Atlântica, onde foram avaliados diversos aspectos, como biodiversidade e o carbono armazenado em diferentes compartimentos da floresta. A base de dados resultante já resultou em 40 artigos científicos e servirá como suporte para estudos futuros.
### Pergunta Central do Projeto
A grande questão científica abordada pelo NEWFOR foi: como diferentes métodos de reflorestamento geram benefícios ambientais variados em diferentes condições? Compreender o potencial de sequestro de carbono e outros benefícios associados é essencial para orientar investimentos em reflorestamento, garantindo que múltiplos benefícios sejam obtidos com cada unidade investida.
### Conclusão
Com a combinação de tecnologia inovadora e uma sólida base de dados, o Brasil tem a oportunidade de liderar o mercado global de crédito de carbono, contribuindo significativamente para a mitigação das mudanças climáticas e promovendo a restauração de ecossistemas.
Informações da Agência FAPESP
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