A Hesitação Vacinal e Seus Impactos na Saúde Pública
Nos últimos 13 anos, a antropóloga Márcia Couto, professora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP), tem explorado a questão emergente da hesitação vacinal. Este conceito, formalizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2014, refere-se ao atraso ou recusa em aceitar vacinas recomendadas, mesmo quando estes serviços estão disponíveis. A OMS considera a hesitação vacinal como uma das dez maiores ameaças à saúde global.
O Estudo da Hesitação Vacinal no Brasil
A pesquisa de Couto começou a partir da observação de uma aluna de pós-graduação, que notou que pais com alta renda e escolaridade estavam vacinando menos seus filhos. Esse fenômeno gerou uma série de estudos aprofundados sobre as razões da hesitação vacinal, analisando fatores como classe social, escolaridade, gênero e raça, tanto no Brasil quanto em outros países do Norte e do Sul Global.
Insights de Pesquisa em Famílias Brasileiras
Um estudo analisou 44 famílias nas capitais São Luís (MA) e Florianópolis (SC), além de uma em Capetown, na África do Sul. A pesquisa, que envolveu 62 pais ou cuidadores de crianças até 5 anos, revelou que a hesitação em vacinar está ligada a disputas simbólicas e desigualdades sociais.
Para famílias de baixa renda, obstáculos como acesso, tempo e serviços de saúde precários foram principais fatores. Por outro lado, famílias com maior escolaridade tendem a ter uma crítica à indústria farmacêutica e valorizam a autonomia parental, vendo a vacina como uma ameaça em vez da doença.
O Papel da Política na Hesitação Vacinal
A hesitação vacinal ganhou novos contornos durante a pandemia de COVID-19, sendo instrumentalizada politicamente no Brasil. Couto observou protestos contra vacinas, o que foi um fenômeno raro até mesmo durante a ditadura militar. Seu grupo de pesquisa associou gráficos de vacinação aos resultados eleitorais das últimas eleições presidenciais, evidenciando essa correlação.
Crenças e Percepções Sobre Vacinação
Antes da pandemia, entre 2014 e 2018, a equipe de Couto já identificava crenças e percepções que justificavam a hesitação vacinal em diversas partes do mundo. Fatores como desconfiança na indústria farmacêutica, a crença na não gravidade da doença – paradoxalmente estimulada pela vacinação em massa – e o medo de efeitos colaterais foram amplamente documentados.
Estratégias para Combater a Hesitação Vacinal
Para Couto, enfrentar a hesitação vacinal é uma tarefa essencial para a saúde pública. Em um estudo financiado pela FAPESP, foram testadas diversas abordagens de comunicação sobre a importância da vacinação. A estratégia mais bem-sucedida foi a de enfatizar não apenas os riscos da doença, mas também a segurança e eficácia das vacinas. Essa abordagem mostrou resultados positivos na diminuição da resistência às vacinas.
Conclusão
Compreender e abordar a hesitação vacinal é crucial para garantir a saúde pública. A pesquisa de Couto e seu grupo fornece insights valiosos sobre as complexas dinâmicas que influenciam a aceitação das vacinas no Brasil e globalmente. Portanto, o desenvolvimento de estratégias comunicativas eficazes é fundamental para enfrentar esse desafio e promover a vacinação como uma ferramenta eficaz de saúde pública.
Informações da Agência FAPESP
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