Como Medo, Dor e Desigualdade Impedem o Rastreamento do Câncer de Colo do Útero e Mama entre Mulheres

Por Redação
5 Min

Desafios no Rastreio do Câncer de Colo do Útero e Mama no Brasil

O Brasil oferece exames gratuitos para rastrear câncer de colo do útero e mama, mas muitas mulheres ainda enfrentam barreiras significativas à adesão. O medo do diagnóstico, dor durante os exames, vergonha, lentidão no agendamento e entrega de resultados, além de fatores socioeconômicos como cor da pele e escolaridade, dificultam o acesso ao rastreamento. O câncer de colo do útero é o terceiro mais comum entre mulheres e a quarta principal causa de morte por câncer no Brasil, enquanto o câncer de mama é o tipo mais prevalente, excluindo o câncer de pele não melanoma.

Pesquisa sobre Barriers no Rastreio do Câncer

Dois estudos financiados pela FAPESP, realizados pela Fundação Oncocentro de São Paulo (Fosp), identificaram essas barreiras e sua relação com desigualdades sociais. As pesquisas, que envolveram 50 unidades básicas de saúde em 37 municípios de São Paulo, revelaram que, apesar do avanço na cobertura dos programas de rastreamento, muitas mulheres, especialmente as mais vulneráveis, ainda são deixadas de fora.

“Ao invés de um rastreamento sistemático, o Brasil adota um modelo oportunista — onde as mulheres fazem exames apenas quando têm oportunidade”, afirma Carolina Terra de Moraes Luizaga, pós-doutoranda na Fosp e Faculdade de Saúde Pública da USP.

Medos e Barreiras no Exame Papanicolau

No caso do Papanicolau, essencial para a prevenção do câncer de colo do útero, uma pesquisa com 384 mulheres de 25 a 64 anos apontou que, embora 87% tenham feito o exame recentemente, quase metade enfrentou barreiras ao continuar o rastreamento. Entre as dificuldades, 41% relataram medo do resultado, 30% mencionaram demora na obtenção de resultados, e 29% sentiram vergonha de realizar o exame. Essas barreiras foram mais intensas entre mulheres de menor escolaridade e renda.

Desafios na Mamografia

Em relação ao câncer de mama, 170 mulheres entre 50 e 69 anos participaram do estudo. Embora 84% tenham realizado mamografia nos últimos cinco anos, elas também relataram dificuldades significativas. A dor durante o exame foi a principal barreira (59%), seguida pela longa espera para a mamografia (44%) e dificuldades de agendamento (40%).

“A dor no exame é um obstáculo significativo, indicando que experiências negativas podem ter um impacto duradouro sobre a disposição das mulheres em se submeter a exames futuros”, destaca Alice Barros Câmara, pesquisadora da Fosp.

Desigualdades Sociais e Acesso à Saúde

Os dados revelaram como fatores sociodemográficos impactam a percepção das barreiras. Mulheres negras e pardas relataram mais constrangimento e dificuldades para agendar exames, enquanto as mulheres brancas citaram mais frequentemente medo e dor. A baixa escolaridade e renda estão associadas a barreiras adicionais no rastreamento.

Esses achados reforçam como desigualdades raciais, sociais e econômicas ainda moldam o acesso ao sistema de saúde no Brasil. Mulheres em empregos informais ou sem flexibilidade têm mais dificuldade para realizar exames.

O Modelo de Rastreio Oportunista

Atualmente, o modelo de rastreamento no Brasil é oportunista, onde a iniciativa depende da mulher ou do profissional de saúde, sem um mapeamento ativo da população elegível. O projeto Controle do Câncer no Estado de São Paulo visa implementar um modelo de rastreio organizado, onde todas as mulheres elegíveis são identificadas e acompanhadas.

O grupo iniciou um projeto piloto em Mococa, validando um sistema informatizado para mapear mulheres em idade de rastreamento e consolidar dados do Sistema Único de Saúde.

Conclusão: Avanços Necessários no Rastreio

Embora as taxas de cobertura do rastreio do câncer de colo do útero no Brasil sejam razoáveis, as desigualdades regionais precisam ser abordadas. A necessidade de ações multifacetadas é urgente: desde a simplificação do agendamento e a agilidade na entrega de resultados até a melhoria da experiência do paciente. Um enfoque centrado na mulher é crucial.

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Políticas específicas que considerem as diversidades em escolaridade, renda e raça são igualmente fundamentais. “Para avançar, é preciso ouvir as mulheres, compreender suas dificuldades e adaptar as estratégias”, conclui Luizaga.

Para mais informações, confira os artigos: Barriers and attitudes toward cervical cancer screening e The influence of sociodemographic factors on barriers to breast cancer screening.

Informações da Agência FAPESP

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