Primeiros Liquens na Terra: Descoberta Revela o Spongiophyton
Um grupo de pesquisadores confirmou, pela primeira vez em alto grau de detalhe, a identidade dos primeiros liquens que habitaram a Terra, o Spongiophyton, cerca de 410 milhões de anos atrás. Esses liquens, resultado da simbiose entre fungos e algas, são fundamentais para a estruturação dos ecossistemas terrestres, contribuindo para a formação de solos ao dissolver rochas.
O estudo foi publicado na revista Science Advances, com destaque de capa, por 19 instituições, incluindo a Universidade de São Paulo (USP) e o Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM).
Avanços na Visualização Científica
De acordo com Bruno Becker-Kerber, primeiro autor do estudo, a utilização de linhas de luz do Sirius—uma fonte de luz síncrotron de última geração—aliadas a outras técnicas, possibilitou visualizar estruturas que reforçam a identidade do Spongiophyton como o primeiro líquen conhecido. O uso dessa tecnologia permitiu imagens em escalas micrométrica e nanométrica, essencial para a identificação de características reprodutivas e redes de hifas, que são filamentos compostos de fungos multicelulares.
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A pesquisa alcançou uma resolução impressionante de 170 nanômetros, permitindo a observação de células de algas e estruturas que corroboram a classificação do organismo como líquen.
Evidências Químicas e Morfológicas
Análises detalhadas revelaram a presença de cálcio, compostos nitrogenados e lipídios, descartando a possibilidade de o Spongiophyton ser uma planta. Becker-Kerber explica que, enquanto as plantas não vasculares contêm celulose, os liquens são compostos de quitina—material resistente e rico em nitrogênio. A equipe encontrou um sinal robusto de nitrogênio no espécime, algo inédito na pesquisa paleontológica.
Além disso, foram identificadas micropartículas de cálcio, características de minerais que, atualmente, são produzidos por liquens como forma de proteção solar. Esta é uma descoberta sem precedentes em fósseis tão antigos.
A Relevância da Pesquisa Interdisciplinar
Nathaly Archilha, coautora e pesquisadora do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS) do CNPEM, enfatiza a importância de combinar métodos tradicionais com técnicas avançadas para obter resultados mais precisos e detalhados.
Descoberta Paternal
Bruno Becker-Kerber obteve o fóssil em 2021 em uma pedreira no município de Rio Verde de Mato Grosso, MS. Ele e seu pai, Gilmar Kerber, entusiasta de paleontologia, costumavam explorar juntos. Becker-Kerber recorda que, ao abrir uma pedra, percebeu que havia encontrado algo inédito.
Protetendo o fóssil em papel-alumínio esterilizado, o processo garantiu a integridade do material para análises sensíveis, incluindo a identificação de biomarcadores moleculares.
Implicações Ecológicas
O estudo sugere que os primeiros liquens não eram organismos marginais, mas sim pioneiros na transformação da superfície terrestre durante a colonização. Eles desempenharam um papel crucial na transição da vida aquática para a terrestre, influenciando a formação de ecossistemas complexos.
“Os liquens alteram substratos rochosos e produzem biomassa utilizada por plantas e animais. Este papel foi ainda mais significativo no passado, permitindo o surgimento de florestas e campos”, conclui Becker-Kerber.
Para mais detalhes, o artigo completo "The rise of lichens during the colonization of terrestrial environments" está disponível em Science Advances.
Informações da Agência FAPESP
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