Transição do Sistema Agroalimentar é Tema Central na COP30
A transição do sistema agroalimentar, um dos principais tópicos da COP30, já apresenta inovações tecnológicas, institucionais e produtivas. No entanto, a implementação dessas práticas ocorre de forma lenta, considerando a urgência climática atual. Apesar das tecnologias indicarem uma economia de baixo carbono, as pressões sobre a biodiversidade e o meio ambiente aumentam continuamente. Identificar os bloqueios que restrigem o avanço das inovações é vital para ampliar esse processo em curto prazo.
Esses pontos foram discutidos durante a roda de conversa “Para que a comida não alimente a crise climática”, realizada em um evento paralelo pela Cátedra Josué de Castro de Sistemas Alimentares Saudáveis e Sustentáveis da Faculdade de Saúde Pública da USP.
Lançamento do Livro sobre Agroalimentação
O evento também marcou o lançamento do livro Caminhos para a transição do sistema agroalimentar: desafios para o Brasil, organizado pelos pesquisadores Ricardo Abramovay e Arilson Favareto. A obra reúne artigos de cientistas da FSP-USP e convidados, abordando como os atuais sistemas agrícolas e modos de produção e consumo ameaçam o equilíbrio ambiental e a saúde humana.
Segundo Favareto, professor titular da cátedra, a monotonia caracterizando os sistemas alimentares precisa ser superada, destacando a baixa diversidade desses sistemas. Um estudo do Royal Botanic Gardens Kew revela que das mais de 7 mil plantas comestíveis catalogadas, apenas 15 são utilizadas pela maioria da população mundial.
A Necessidade de Sistemas Agroalimentares Sustentáveis
Abramovay enfatiza a importância de fortalecer sistemas de produção que respeitem a vida, desde o solo até os microrganismos, e que promovam a diversidade. Ele critica a dependência de tecnologias do século 20, apontando que, embora tenham contribuído para a redução da fome global, é necessário um olhar mais atento para inovações que considerem a biologia e a relação entre seres vivos.
A produção e consumo dos alimentos têm um impacto significativo no clima, saúde e biodiversidade. A agricultura regenerativa, com práticas que restauram o solo e promovem a biodiversidade, surge como uma alternativa viável para um modelo mais sustentável. Atualmente, os sistemas agroalimentares são responsáveis por cerca de um terço das emissões de gases de efeito estufa, muitas vezes devido a alterações no uso da terra. A crise climática, por sua vez, já compromete a produção agrícola, demonstrando a necessidade urgente de adaptação.
O Papel da Sociedade na Transição Alimentar
Tereza Campello, membro do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (Nupens-USP) e diretora socioambiental do BNDES, ressaltou a urgência de integrar esse debate nas políticas públicas, afirmando que a participação da população é crucial para acelerar a transição.
Patricia Jaime, coordenadora científica do Nupens e autora de um capítulo do livro, enfatizou a importância da colaboração entre as comunidades locais, a academia, a sociedade civil, o governo e o setor privado para alcançar uma alimentação saudável e sustentável.
Criado em 1990, o Nupens realiza pesquisas direcionadas a nutrição e saúde e tem como foco o desenvolvimento de diagnósticos e intervenções eficazes. O conceito de alimentos ultraprocessados, discutido pelo coordenador emérito Carlos Augusto Monteiro, é parte integrante do Guia Alimentar para a População Brasileira, que divide os alimentos em categorias que vão de in natura a ultraprocessados.
A discussão na COP30 é um passo significativo em direção à conscientização sobre a saúde do sistema agroalimentar global, destacando a necessidade de um compromisso coletivo para garantir um futuro sustentável.
Informações da Agência FAPESP
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