Ester Sabino propõe centro nacional de vigilância para prevenção de futuras epidemias

Por Redação
4 Min

Apenas 48 horas após a confirmação do primeiro caso de COVID-19 no Brasil, em março de 2020, a sequência completa do genoma do SARS-CoV-2 foi publicada por cientistas da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade de Oxford. Essa descoberta, realizada por Ester Sabino e Jaqueline Goes, envolveu colaboração com o Instituto Adolfo Lutz e diversas instituições de pesquisa.

### Análise e Monitoramento das Variantes do Vírus

Nos meses seguintes, diante de um apagão de dados sobre COVID-19 no Brasil, a equipe de Sabino se voltou a fontes alternativas de informação. Estabeleceram parcerias com grandes redes de laboratórios privados para monitorar a disseminação de variantes como alfa e ômicron.

Durante a crise em Manaus, uma abordagem inovadora foi adotada: a análise de amostras de sangue de doadores. Essas amostras são armazenadas em bancos de sangue por períodos de seis meses, permitindo a descoberta de que cerca de 70% da população manauara já havia sido infectada em setembro de 2020. A pesquisa também demonstrou que a reinfecção era possível, o que ainda não era consenso naquela época.

### Lições da Pandemia

Sabino enfatiza a importância de uma vigilância epidemiológica eficaz. “Precisamos de um centro de vigilância e inteligência no Brasil, capaz de detectar rapidamente novas epidemias. O mundo é muito conectado e qualquer surto em qualquer lugar pode se transformar em uma crise global”, destacou durante sua apresentação na Escola Interdisciplinar FAPESP, realizada de 10 a 14 de novembro em São Paulo.

A pesquisadora comparou a vigilância epidemiológica a alarmes de incêndio, defendendo a necessidade de tecnologias simples e acessíveis para uma detecção precoce de epidemias. “A tecnologia para detectar novas epidemias deve ser tão comum quanto detectores de fumaça”, argumentou.

### Iniciativas Internacionais e Propostas no Brasil

Sabino também comentou sobre várias iniciativas globais voltadas para a prevenção de epidemias. A Aliança 717, por exemplo, busca maneiras de identificar ameaças emergentes em sete dias, enquanto a Missão 100 dias do G20 visa assegurar que diagnósticos, tratamentos e vacinas estejam prontos em um curto prazo. Essas iniciativas são acompanhadas pela Global Outbreak Alert and Response Network, coordenada pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

#### Modelo Brasileiro de Vigilância Epidemiológica

Para o Brasil, a ideia é criar um centro nacional de inteligência epidemiológica, inspirado no CDC dos Estados Unidos, mas adaptado à realidade local. Essa proposta, elaborada pelo Instituto Todos pela Saúde (ITpS), sugere uma estrutura enxuta focada em coordenação e análise estratégica, aproveitando a capilaridade do Sistema Único de Saúde (SUS).

“Não precisamos criar uma nova agência do zero, mas sim um centro que complemente e organize o que já existe”, afirmou Sabino. O objetivo é abordar não apenas vírus, mas também ameaças como resistência microbiana e arboviroses.

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### Dicas para Pesquisadores

Emmanuel Burdmann, professor da USP, compartilhou conselhos sobre como aumentar as chances de aprovação em editais de pesquisa. Ele enfatizou a importância de uma proposta bem escrita, com metodologia detalhada e relevância social.

“É crucial que o proponente demonstre condições para realizar o projeto”, aconselhou. Burdmann também encorajou jovens pesquisadores: “Acredite na sua ideia. Você vai ouvir muitos ‘não’, mas se realmente acredita, continue tentando. Uma hora vai dar certo.”

### Conclusão

As iniciativas de monitoramento e vigilância epidemiológica são cruciais para enfrentar futuras pandemias. A criação de um centro nacional de inteligência epidemiológica pode fortalecer a resposta do Brasil a novas crises de saúde pública, garantindo uma detecção e intervenção mais ágeis e eficazes.

Informações da Agência FAPESP

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