Impacto das Mudanças Climáticas na Saúde Pública no Pará e na COP30
Nos últimos três anos, o estado do Pará, que sediará a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30), enfrentou uma série de eventos climáticos extremos, incluindo secas e estiagem, entre 2023 e 2024. Esses fenômenos resultaram em um aumento significativo das queimadas e nos atendimentos em postos de saúde e hospitais a pacientes expostos à fumaça.
De acordo com Roberta Souza, diretora do Departamento de Vigilância Ambiental e Saúde do Trabalhador da Secretaria Estadual de Saúde do Pará, não há registros de intoxicação pela fumaça das queimadas nos sistemas públicos de informação. Ela destacou que, embora a demanda por nebulizações tenha aumentado durante as queimadas, não foi encontrado uma única notificação associada a esses episódios, evidenciando as dificuldades do sistema de saúde brasileiro em correlacionar doenças às condições ambientais.
A Necessidade de Avanços na Saúde Única
Durante um evento paralelo à COP30, Souza enfatizou a urgência de avançar na compreensão da saúde única, que considera o ser humano como parte de um sistema ambiental. O encontro buscou integrar diversas abordagens sobre saúde ambiental, animal, ecossistêmica e humana, frente aos desafios climáticos e suas implicações na biodiversidade.
O conceito de saúde única tem ganhado destaque nas conferências climáticas da ONU, à medida que as mudanças climáticas emergem como uma das maiores ameaças à saúde pública do século. Paulo Artaxo, professor do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (IF-USP) e membro do Programa FAPESP de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais, reiterou que a vida humana está intrinsecamente ligada ao funcionamento do nosso planeta, e que é vital evitar um colapso do sistema global.
Desafios Climáticos para o Brasil
Artaxo também ressaltou que o Brasil será um dos países mais afetados pelas mudanças climáticas. Um aumento de 4 °C em Belém teria um impacto muito mais severo na saúde e no ecossistema local do que em regiões de países desenvolvidos, tornando a luta contra as mudanças climáticas ainda mais relevante durante a COP30.
Efeito das Árvores e do Mar na Saúde
Estudos da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) revelam que Belém enfrenta um dos maiores registros de ondas de calor no Brasil. Simulações indicam que, em 2024, moradores da cidade podem experimentar estresse térmico por até cinco meses. Esse fenômeno é agravado pelo efeito da ilha de calor, uma vez que a cidade, embora próxima da Amazônia, apresenta baixa cobertura vegetal.
Pesquisadores, como Paulo Rógenes Monteiro Pontes, destacaram a importância do aumento da vegetação urbana para lidar com as altas temperaturas e reduzir a incidência de doenças. Uma pesquisa orientada pelo professor Jean Paul Metzger mostrou que um aumento de 10% na cobertura florestal urbana poderia reduzir acentuadamente taxas de hospitalização por doenças cardiovasculares e respiratórias.
Alexander Turra, do Instituto Oceanográfico da USP, apontou que a conexão com o oceano também traz benefícios à saúde. Um experimento revelou que imagens do mar geram reações positivas em ambientes hospitalares, evidenciando a importância do contato com a natureza.
Adaptação das Cidades e Inovações Necessárias
Gilberto Jannuzzi, da Unicamp, argumentou que é crucial reconsiderar o planejamento urbano frente aos riscos de ondas de calor. Ele ainda criticou a falta de adaptação nas construções urbanas brasileiras, que muitas vezes repetem modelos inadequados de outras regiões.
Antônio Mauro Saraiva, da Escola Politécnica da USP, acrescentou que o setor privado deve se engajar na criação de uma nova economia baseada em propósito e inovação, em vez da exploração estável.
Luiz Aragão, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), ressaltou a necessidade de aprimorar sistemas de alerta para desastres climáticos, enfatizando que as estratégias de monitoramento devem focar na previsão e não apenas na resposta a eventos já ocorridos.
Na abertura do evento, Marco Antonio Zago, presidente da FAPESP, destacou a importância das contribuições científicas durante a COP30, afirmando que a interação entre ciência, ativismo, governos e sociedade é essencial para enfrentar os desafios impostos pelas mudanças climáticas.
Conclusão: As mudanças climáticas estão impactando significativamente a saúde pública na região amazônica, e iniciativas para promover a saúde única e aumentar a vegetação urbana são fundamentais para mitigar esses efeitos. A COP30 é uma oportunidade vital para promover essas discussões e ações em nível global.
Informações da Agência FAPESP
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