Urgência Climática e a Liderança do Brasil na COP30
Durante a COP30, realizada pela primeira vez na Amazônia, em Belém (PA), especialistas alertam sobre a necessidade urgente de transformação de promessas em ações efetivas para combater o aquecimento global. O Brasil, como anfitrião da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, deve alinhar suas políticas internas às suas obrigações internacionais, enfatizando a conservação das florestas e a justiça climática.
Os pesquisadores enfatizam a importância de reverter políticas antiambientais, implementar leis de combate ao desmatamento e fortalecer iniciativas de desenvolvimento sustentável. É fundamental transformar promessas em ações concretas por meio de reformas legislativas, restauração do licenciamento ambiental e proteção dos direitos dos povos indígenas. O artigo foi publicado na revista International Environmental Agreements: Politics, Law and Economics.
Os oito pesquisadores que assinam o artigo incluem três do ARIES (Instituto Paulista de Resistência aos Antimicrobianos), um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão apoiado pela FAPESP e vinculado à Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Os demais signatários representam universidades de São Paulo (USP), Federal de Alagoas (Ufal) e a Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Fiocruz).
A bióloga Daniela Debone, primeira autora do artigo e pós-doutoranda no ARIES, ressalta que o Brasil deve aproveitar a visibilidade internacional para cumprir seus compromissos e limitar o aquecimento global, apresentando propostas nacionais como o Plano de Ação em Saúde de Belém.
Este plano busca fortalecer a adaptação e resiliência na saúde frente a mudanças climáticas, promovendo sistemas integrados de vigilância e políticas baseadas em evidências. Ele integra a programação da COP30, que inclui temas como saúde.
Resistência Antimicrobiana e Mudanças Climáticas
A resistência antimicrobiana (AMR), ligada às mudanças climáticas, é uma das principais ameaças à saúde pública global, segundo a ONU. A OMS estima aproximadamente 250 mil mortes anuais entre 2030 e 2050 relacionadas a problemas como desnutrição e doenças infecciosas causados por alterações climáticas. A AMR pode ocasionar até 10 milhões de mortes anuais no mesmo período e um custo adicional de US$ 1 trilhão aos sistemas de saúde.
Os cientistas afirmam que é crucial traduzir descobertas científicas em políticas públicas efetivas. A professora Simone Miraglia, do ARIES, destaca a necessidade de ações concretas para promover práticas mais sustentáveis, citando a importância da ciência brasileira, incluindo especialistas que participam do IPCC.
Desafios Recentes e Avanços
A proposta do artigo surgiu durante eventos da Comissão Unifesp para a COP30. Recentemente, o Senado aprovou a Lei Geral do Licenciamento Ambiental, com 63 vetos, que, embora vista por alguns como uma forma de acelerar processos, é considerada pelos pesquisadores como um risco para os direitos dos povos tradicionais e a conservação da floresta.
Os cientistas também mencionam críticas a obras que desmatam e afetam a Amazônia. Por outro lado, destacam avanços significativos, incluindo a redução do desmatamento e das emissões de gases de efeito estufa no Brasil.
Entre agosto de 2024 e julho de 2025, o desmatamento na Amazônia Legal caiu para seu terceiro menor nível desde 1988, com redução de 11%. O país também registrou a menor emissão de gases de efeito estufa desde 2009, com um recuo de quase 17%.
A Necessidade de Ação Imediata
Os cientistas lembram que as temperaturas globais já subiram até 1,6 °C em relação aos níveis pré-industriais, aumentando a urgência de ação imediata. A visão de uma bioeconomia amazônica próspera precisa ser respaldada por mudanças decisivas nos modelos destrutivos do passado.
Um estudo recente publicado na Anthropocene Science avalia os efeitos de chuvas extremas e destaca a necessidade de integrar projeções climáticas ao planejamento urbano. Eventos extremos de enchentes estão se tornando comuns, o que requer atenção constante.
O artigo "Brazil’s climate leadership paradox: hosting COP30 amid domestic environmental rollbacks" pode ser consultado aqui.
Informações da Agência FAPESP
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