Os estudos sobre a previsão de pandemias têm se mostrado frequentemente ineficazes, exigindo que cientistas desenvolvam novas abordagens para antecipar o surgimento de patógenos. Um enfoque inexplorado, mas promissor, é a relação entre conservação da biodiversidade e a prevenção de epidemias.
Esse foi o ponto central da palestra de Felicia Keesing, professora do Bard College, durante a Escola Interdisciplinar FAPESP: Ciências Exatas e Naturais, Engenharia e Medicina, realizada em São Paulo entre 10 e 14 de novembro. Keesing destacou que 75% das doenças infecciosas emergentes em humanos são zoonóticas, ou seja, transmitidas de animais para humanos. Contudo, as estratégias atuais de saúde pública não impediram crises como a pandemia de COVID-19.
A pesquisadora argumenta que as medidas recomendadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) — como o fortalecimento da resiliência, o acesso igualitário a vacinas e a melhoria na prevenção e resposta aos surtos — são essenciais, mas insuficientes. Ela sugere que devemos expandir nosso foco em busca de potenciais fontes de pandemias, passando a considerar não apenas vírus, mas também diversas espécies animais e patógenos.
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Dentre suas propostas, Keesing enfatiza a importância de reevaluar previsões passadas para entender suas falhas e aprimorar modelos preditivos. Além disso, é crucial ampliar as investigações para além dos coronavírus, pois outras ameaças podem surgir de vírus ou bactérias variadas. Ela acredita que uma bactéria resistente a tratamentos poderá ser o próximo grande desafio global.
A análise sobre reservatórios de patógenos é fundamental. Keesing aponta que muitos microrganismos não possuem apenas um hospedeiro primário, então a identificação correta de quais espécies são realmente críticos é essencial. Além disso, patógenos zoonóticos também podem ser transmitidos de humanos para animais, resultando em um viés nas pesquisas que geralmente se concentram em patógenos que já afetaram pessoas.
Keesing ressaltou que os animais menos ameaçados de extinção são os mais propensos a transmitir doenças. Características biológicas, como a reprodução em áreas amplas e a alta taxa de natalidade, contribuem para isso. Observações em áreas do Quênia também demonstraram que a perda de grandes mamíferos levou ao aumento de roedores e serpentes venenosas.
A preservação da biodiversidade, portanto, é vista como vital para evitar novas pandemias. Além disso, é necessário investir em antivirais de amplo espectro, antibióticos inovadores, rápidas campanhas de vacinação e políticas públicas eficazes.
### A Importância da Matemática na Economia
Marcelo Viana, diretor do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa), abordou a relevância da formação em Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática (STEM) para o desenvolvimento econômico. Viana apresentou estudos que mostram como profissões relacionadas à matemática impactam significativamente o Produto Interno Bruto (PIB) de países como Reino Unido, França, Austrália e Espanha.
Na França, estudos revelaram que empregos na área de matemática representavam 13% das ocupações e 18% do PIB em 2022, um aumento em relação a 2012. No Brasil, um estudo realizado pelo Itaú Social, com apoio do Impa, revelou que as carreiras ligadas à matemática equivalem a 4,6% do PIB, com salários 119% superiores à média nacional. Viana argumenta que aumentar esse número para os 18% da França poderia acrescentar R$ 1,5 trilhão ao PIB brasileiro.
Uma iniciativa promissora é a inauguração do Impa Tech em 2024 no Rio de Janeiro, que oferece uma graduação focada na formação de mão de obra qualificada em matemática. Os alunos são selecionados com base nos resultados das olimpíadas de matemática, sem vestibular, e têm a opção de continuar em matemática, ciência da computação, ciência de dados ou física.
### Ciência em São Paulo
Na abertura do evento, o presidente da FAPESP, Marco Antonio Zago, destacou a liderança do Estado de São Paulo em produção científica, fruto de investimentos consistentes nas universidades estaduais e na própria FAPESP. A estabilidade financeira é crucial para financiar projetos de longo prazo.
Zago também celebrou o sucesso da Escola Interdisciplinar, que já está em sua quinta edição em 2025, por promover a interconexão entre diferentes áreas do conhecimento. O organizador do evento, Oswaldo Baffa Filho, enfatizou a diversidade de participantes, enriquecendo a troca de conhecimento e experiências.
Durante a abertura, estiveram presentes também Carlos Graeff e Marcio de Castro, reforçando a relevância do evento.
A programação completa da Escola Interdisciplinar FAPESP: Ciências Exatas e Naturais, Engenharia e Medicina pode ser conferida em: escolafapesp2025exatas.webeventos.tec.br/.
Informações da Agência FAPESP
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