A diversidade dos campos naturais do Cerrado está se adaptando ao aumento das temperaturas e à frequência de queimadas, conforme demonstram estudos realizados por cientistas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e do Instituto de Pesquisas Ambientais (IPA) da Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística (Semil) do Estado de São Paulo. Essa pesquisa, publicada no Journal of Vegetation Science, revela que fatores climáticos impactam mais a composição da flora do que a disponibilidade de nutrientes no solo.
Análise de Campos Naturais
O estudo analisou 14 campos naturais de Cerrado em cinco Estados brasileiros: São Paulo, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Paraná. Em cada área, foram amostradas 30 parcelas de um metro quadrado, onde os pesquisadores avaliaram a composição florística, a diversidade e a estrutura da vegetação. Embora existam diferentes atributos que afetam esses ecossistemas, as queimadas frequentadas foram associadas a uma maior diversidade de espécies.
Queimadas e Biodiversidade
Os pesquisadores observaram que a intensidade das queimadas contribui para a diversidade, especialmente em condições de temperaturas mais elevadas. Isso ocorre porque temperaturas e umidade adequadas reduzem a dominância de espécies competitivas, permitindo que plantas mais tolerantes à seca prosperem.
De acordo com a coautora do estudo, Bruna Helena de Campos, especialista em ecologia, essas descobertas sugerem que o manejo do fogo deve ser integrado nas estratégias de conservação do Cerrado. Neste bioma, ao contrário de outros como a Mata Atlântica e a Amazônia, o fogo é um fator crucial para manter a dinâmica ecológica e aumentar a diversidade.
Manejo Controlado do Fogo
É importante ressaltar que as queimadas devem ser controladas. Enquanto incêndios acidentais podem causar danos irreversíveis, as queimadas controladas são realizadas em condições específicas, sob supervisão e planejamento, para fins de manejo ambiental. A pesquisa indica que estas práticas podem contribuir para a renovação dos ecossistemas e para combater a perda de biodiversidade.
Diferenciação nas Savanas
A pesquisa também destaca que a dinâmica das savanas varia de região para região. Por exemplo, na África, a presença de grandes herbívoros desempenha um papel crucial no controle da vegetação, enquanto na Austrália, fatores climáticos são predominantes. No Brasil, onde não há grandes herbívoros, o fogo é essencial para manter os ecossistemas abertos.
Política de Manejo Integrado
Giselda Durigan, coautora do artigo e pesquisadora do IPA, enfatiza a importância de desenvolver políticas públicas que incluam o manejo do fogo, superando as resistências históricas. A implementação da Política Nacional de Manejo Integrado do Fogo é um passo significativo, e a capacitação de gestores e brigadistas é crucial para garantir que as queimadas controladas sejam efetivas e benéficas.
Leia o artigo completo "Climate and fire outweigh the role of soil as drivers of plant community assembly in tropical grasslands" em: Journal of Vegetation Science.
Esse estudo sublinha a importância de repensar as práticas de manejo e conservação no Cerrado, promovendo uma abordagem que respeite e explore a dinâmica natural dos ecossistemas.
Informações da Agência FAPESP
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