Fungo Mortal para Anfíbios: Emergência no Brasil e Disseminação Global

Por Redação
3 Min

O fungo quitrídio (Batrachochytrium dendrobatidis), conhecido como Bd, é uma das principais ameaças ao declínio das populações de anfíbios em todo o mundo. Pesquisas recentes identificaram várias linhagens genéticas do fungo causador da quitridiomicose, que já impactou pelo menos 500 espécies de anfíbios anuros, como sapos, rãs e pererecas.

A disseminação do Bd é muitas vezes atribuída ao comércio de rãs-touro (Aquarana catesbeiana), uma espécie americana cultivada globalmente por sua carne. Essa espécie foi introduzida no Brasil em 1935, com uma nova população adicionada na década de 1970.

A Linhagem Bd-Brazil

A linhagem Bd-Brazil, identificada no Brasil em 2012, teve sua origem debatida. Um estudo de 2018 sugeriu que poderia ter se originado na Península Coreana, renomeando-a como Bd-Asia-2/Bd-Brazil. Contudo, recentemente, um artigo publicado na revista Biological Conservation por pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) confirma que a linhagem se originou no Brasil.

A pesquisa revela que a linhagem Bd-Brazil já estava presente no Brasil em 1916, duas décadas antes da introdução das primeiras rãs-touro. Esse dado foi previamente mencionado em um estudo de 2014, que identificou linhagens do fungo em sapos coletados desde o século 19.

Os pesquisadores combinaram dados de literatura científica com amostras de anfíbios em museus e análises genéticas de rãs-touro no Brasil e no exterior. Eles concluíram que a disseminação do Bd, a partir do Brasil, ocorreu principalmente por meio do comércio de carne de rã, onde o país se destaca como um importante fornecedor.

Importância do Estudo

“Esse genótipo é prevalente em várias espécies nativas no Brasil e apresenta registros antigos. Em outros locais, as infecções são mais recentes e limitadas a rãs-touro e outras espécies exóticas”, explica Luisa P. Ribeiro, primeira autora do estudo. O projeto integra o estudo “Da história natural à conservação dos anfíbios brasileiros”, apoiado pela FAPESP.

Além disso, foram examinados 2.280 espécimes de anfíbios coletados entre 1815 e 2014, que indicaram registros de infecção pelo fungo mais antigos do que os anteriormente documentados.

Resultados do Comércio Internacional

Os pesquisadores analisaram 3.617 rotas do comércio internacional de carne de rã, com apenas 12 países como exportadores. A hipótese de dispersão do Brasil identificou oito rotas, confirmando que o país exportou rãs-touro diretamente para os Estados Unidos entre 1991 e 2009. Isso sugere que o Brasil é, de fato, a origem do genótipo Bd-Brazil.

Os resultados reforçam a necessidade urgente de medidas de prevenção, como controles de importação e protocolos de quarentena, para proteger as espécies nativas de anfíbios.

Para mais informações, o artigo completo "Origin and global spread of an endemic chytrid fungus lineage linked to the bullfrog trade" está disponível em ScienceDirect.

Informações da Agência FAPESP

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