Como a Tecnologia Está Acelerando a Produção de Lúpulo no Brasil

Por Redação
4 Min

Produção de Lúpulo no Brasil: Iniciativas para Reduzir a Dependência de Importações

O Brasil, sendo o terceiro maior produtor e consumidor de cerveja do mundo, ainda enfrenta um grande desafio: a dependência quase total da importação de lúpulo. Atualmente, menos de 1% do lúpulo utilizado no Brasil é cultivado localmente. Para mudar esse cenário, um novo projeto no Vale do Ribeira (SP) busca tornar a produção nacional de lúpulo mais eficiente e viável, além de promover o desenvolvimento de bioprodutos inovadores.

Inovação na Extração de Lúpulo

O projeto é parte do Centro de Pesquisa em Biodiversidade e Mudanças do Clima (CBioClima), um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão apoiados pela FAPESP. Essa iniciativa utiliza a extração supercrítica com dióxido de carbono (CO₂), uma técnica já consolidada em países como Alemanha e EUA. Esta abordagem permite extrair compostos aromáticos e bioativos do lúpulo de forma mais eficiente, reduzindo custos e melhorando a qualidade da cerveja.

O lúpulo brasileiro, tradicionalmente vendido em pellets (flores desidratadas e prensadas), pode agora ser comercializado como óleo. Essa mudança não apenas melhora a logística, mas também resulta em uma produção de cerveja de qualidade superior em comparação aos métodos convencionais, como explica Levi Pompermayer Machado, professor da Unesp e um dos pesquisadores envolvidos no projeto.

Parcerias e Sinergias para a Sustentabilidade

O projeto conta com a participação de diversas instituições, incluindo o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Nanotecnologia para Agricultura Sustentável (INCT NanoAgro) e a incubadora Aquário de Ideias, que apoia startups do Vale do Ribeira. Outros parceiros incluem as empresas Bioativos Naturais e Kalamazoo, apoiadas pelo programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE) da FAPESP. Os produtores estão integrados ao programa SP Produz 2025, que visa fortalecer cadeias produtivas locais.

Um estudo publicado na revista Biomass Conversion and Biorefinery comparou a extração de lúpulo utilizando métodos tradicionais e a técnica de CO₂ supercrítico. Enquanto a extração convencional gera cerca de 15% de extrato com 9% de α-ácidos (compostos responsáveis pelo amargor da cerveja), a técnica com CO₂ pode alcançar até 72% de α-ácidos, resultando também em maior volume e aumento de 20% na produtividade da cerveja.

Sustentabilidade e Química Verde

A inovação tecnológica não apenas melhora a eficiência, mas também segue os princípios da química verde. Ao contrário dos métodos tradicionais que dependem de solventes petroquímicos, a extração supercrítica utiliza CO₂ em estado supercrítico, eliminando a necessidade de grandes quantidades de solventes. Além disso, o CO₂ é recapturado ao final do processo, evitando emissões atmosféricas e eliminando resíduos químicos.

O foco principal do projeto é fornecer opções de cultivo com impacto ambiental reduzido e maior valor agregado, promovendo uma produção agrícola mais sustentável.

Economia Circular e Novas Oportunidades

Os extratos obtidos pela técnica de extração supercrítica não se limitam à indústria cervejeira; eles têm potencial para atender setores como cosméticos e farmacêuticos. Após a extração, os resíduos de lúpulo ainda contêm compostos bioativos com alto potencial antioxidante, como fenólicos e flavonoides, que podem ser aproveitados em novos produtos.

A análise bioquímica revela que, mesmo após a retirada dos principais ativos, a biomassa residual mantém propriedades valiosas, permitindo que os resultados alcancem novos mercados além da indústria de cervejas.

O artigo completo sobre a pesquisa pode ser consultado aqui.

Essa abordagem integrada não apenas visa aumentar a produção de lúpulo no Brasil, mas também contribuir para a sustentabilidade e diversidade econômica do setor agrícola.

Informações da Agência FAPESP

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