Como Gordura e Massa Muscular Contribuem para a Sobrevida de Pacientes com Câncer de Cabeça e Pescoço

Por Redação
4 Min

A Importância da Composição Corporal no Prognóstico do Câncer de Cabeça e Pescoço

Nos últimos anos, a oncologia tem revelado que compreender o câncer envolve mais do que apenas examinar o tumor. O estado nutricional e a composição corporal dos pacientes têm se mostrado fatores cruciais para o prognóstico e a resposta aos tratamentos, especialmente no caso do câncer de cabeça e pescoço.

Novas Evidências sobre Composição Corporal e Câncer

Recentemente, dois estudos, apoiados pela FAPESP e realizados por pesquisadores do Centro de Inovação Teranóstica em Câncer (CancerThera), destacaram a relação entre adiposidade (depósito de gordura), muscularidade (quantidade de massa muscular) e sobrevida em pacientes com câncer de cabeça e pescoço. Este tipo de câncer é um dos mais desafiadores para manejar, afetando principalmente homens acima dos 40 anos, conforme dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca).

Os pacientes com câncer de cabeça e pescoço frequentemente sofrem de desnutrição em virtude da localização da doença, que impacta a mastigação e deglutição. “Esses pacientes têm perda de peso significativa, tornando-os de alto risco nutricional”, explica a nutricionista Maria Carolina Santos Mendes, coorientadora dos estudos.

O Paradoxo da Obesidade e o Câncer

Embora a obesidade seja reconhecida como um fator de risco para diversos tipos de câncer, a influência do tecido adiposo após o diagnóstico é uma área ainda pouco explorada. Observou-se um "paradoxo da obesidade", onde a adiposidade pode atuar como um fator protetor em alguns casos de câncer já estabelecido. Este conceito foi reiterado nos estudos sobre câncer de cabeça e pescoço.

O primeiro estudo, publicado na Frontiers in Nutrition, analisou 132 pacientes com câncer de cabeça e pescoço localmente avançado. Imagens de tomografia mostraram que quanto maior a adiposidade, menor o risco de mortalidade. Pacientes com maiores reservas de gordura apresentaram uma mediana de sobrevida de 27,9 meses, em comparação a 13,9 meses entre aqueles com baixos índices de gordura.

A Relevância da Massa Muscular

Adicionalmente, a preservação da massa muscular foi identificada como um fator protetor significativo nos mesmos pacientes. Aqueles com alta muscularidade sobreviveram, em média, 22,9 meses, enquanto os com baixa musculatura viveram apenas 8,6 meses. Estes resultados indicam o impacto da composição corporal na sobrevida e levantam questões importantes para a pesquisa futura.

O Impacto do Câncer Metastático

O segundo estudo, publicado na Clinical Nutrition ESPEN, analisou 101 pacientes com câncer de cabeça e pescoço metastático ou recorrente. Os dados mostraram que baixos níveis de musculatura estavam associados a piores desfechos clínicos, com todos os indivíduos com baixa massa muscular falecendo em até 24 meses.

A Importância da Avaliação Nutricional

Esses achados destacam a necessidade de uma abordagem holística no tratamento do câncer, incorporando a avaliação da composição corporal como parte do cuidado clínico. A utilização de tomografias, que já são rotina em muitos tratamentos, facilita essa análise e a torna acessível para um amplo número de pacientes.

A pesquisa aponta que a intervenção nutricional precoce pode potencialmente aumentar a sobrevida. “A avaliação da composição corporal deve ser rotineiramente incorporada, já que pode influenciar significativamente o tempo e a qualidade de vida dos pacientes”, conclui Maria Carolina Santos Mendes.

Para mais informações, consulte os artigos:

Informações da Agência FAPESP

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