Escolas Baniwa: Preservação de Saberes Tradicionais e Inovação na Amazônia Noroeste

Por Redação
4 Min

Os Baniwa são um povo indígena localizado nas fronteiras entre Brasil, Colômbia e Venezuela, com uma população estimada em cerca de 20 mil pessoas em 2025. Principalmente conhecidos pelo seu artesanato e pela produção da pimenta jiquitaia, o grupo também se destaca pela atuação cultural de seus integrantes, como o artista plástico Denilson Baniwa e o antropólogo Gersem Baniwa.

Histórico de Violência e Resgate Cultural

Os Baniwa enfrentaram um passado marcado pela violência colonial, exploração econômica e tentativas de apagamento cultural, especialmente por parte de missionários católicos e evangélicos. Contudo, desde o final dos anos 1980, iniciativas educacionais têm funcionado como instrumentos de resgate cultural e inovação social. Um estudo recente por Antônio Fernandes Góes Neto revelou como as escolas indígenas plurilíngues e as organizações comunitárias articulam currículos baseados em saberes tradicionais, assegurando a manutenção do vínculo estudantil e o fortalecimento da governança local.

A pesquisa foi compilada em um capítulo do livro Equalizing the three pillars of sustainability, evidenciando a intersecção entre educação, cultura e economia nas comunidades indígenas.

Desenvolvimento Educacional e Organização Comunitária

O movimento associativista indígena emergiu nos anos 1980 e 1990, devido à mobilização por direitos territoriais e a crise do garimpo, facilitando a formação de inúmeras entidades, como a Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn), que se tornou crucial na defesa dos direitos indígenas. Além disso, com a homologação de terras, foi instituído o Território Etnoeducacional do Rio Negro, promovendo uma educação que integra gestão comunitária e saberes ancestrais.

As escolas, como a Escola Indígena Baniwa e Coripaco Pamáali, permitem que os alunos vivenciem o território, registrando e apresentando suas descobertas, criando assim um material didático contextualizado.

Educação pela Pesquisa e Diversidade Linguística

A ideia de “educar pela pesquisa”, fundamentada nos argumentos de Pedro Demo, propõe que tanto alunos quanto professores embarquem em um processo de aprendizado crítico e autônomo. O contexto sociolinguístico diversificado no Baixo Içana, com o yẽgatu predominando, e o respeito ao patrimônio linguístico do baniwa e do koripako, reflete a riqueza cultural da região.

Inovação e Sustentabilidade

O resgate dos saberes ancestrais é essencial, mas igualmente almeja-se a integração de novos conhecimentos. Em Cabari, por exemplo, práticas como a produção de cestaria, pimenta jiquitaia e turismo étnico estão sendo fomentadas, com a comunidade percebendo que o desenvolvimento econômico está atrelado à educação e à preservação cultural.

A recuperação de práticas espirituais e xamânicas também é um aspecto importante dessa trajetória de fortalecimento comunitário, mesmo em contextos de forte evangelização. Projetos como a Escola Viva visam revitalizar saberes tradicionais e renovar o interesse pela língua baniwa.

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Colaboração e Inovação nas Escolas Indígenas

Escolas indígenas estão rompendo com o “paradigma irresponsável” dos internatos e outras instituições, ao revitalizar a vida local e integrar saberes que reduzam o êxodo das comunidades. A ideia de escola como um “laboratório de invenção” promove a inovação em resposta a desafios reais, formando assim uma base sólida para o futuro das comunidades Baniwa.

Para mais detalhes sobre o impacto destes estudos e práticas nas comunidades Baniwa, acesse o texto completo Reassembling residual knowledge: an ethnographic overview of the Baniwa organizations in the northwest Amazon.

Informações da Agência FAPESP

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