Vila Joaninha Conclui Plano Comunitário de Redução de Riscos e Adaptação Climática
A Vila Joaninha, localizada na periferia de Diadema, é uma das primeiras áreas do Brasil a concluir seu Plano Comunitário de Redução de Riscos e Adaptação Climática (PCRA). Esta iniciativa foi apresentada à comunidade em uma reunião na sede da Rede Cultural Beija-Flor, Núcleo Sítio Joaninha, em 20 de setembro.
O projeto teve início em outubro de 2022 e, ao longo de 11 meses, envolveu a colaboração de pesquisadores do Centro de Estudos da Favela (CEFAVELA), um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPIDs) da FAPESP, sediado na Universidade Federal do ABC (UFABC). O CEFAVELA se dedica a realizar pesquisas, formar recursos humanos e transferir tecnologia, em articulação com diferentes instituições e movimentos sociais que atuam nas favelas.
Estrutura do Plano PCRA
Por meio do PCRA, a comunidade local identifica os problemas de risco e formula estratégias, incluindo ações de autogestão e mobilização, para solucioná-los coletivamente. O plano possibilita também um diálogo técnico entre a comunidade e os órgãos do poder público, abrangendo os níveis municipal, estadual e federal.
Luciana Ferrara, pesquisadora do CEFAVELA que liderou a formulação do plano, afirma: “O PCRA foi elaborado com base na vivência dos moradores, que agora têm uma compreensão melhor dos riscos e podem se organizar para enfrentá-los. A elaboração também fortaleceu a organização comunitária nas áreas que mais necessitam de atenção”.
Riscos Identificados na Vila Joaninha
Durante o levantamento de riscos, foram mapeados 27 setores, dos quais 21 foram considerados de risco médio e seis de alto risco, sem registro de áreas com risco muito alto. Embora não haja moradias que exijam interdição imediata, as localizadas em setores de alto risco apresentam condições precárias que exigem intervenção rápida. “As famílias, sozinhas, não conseguem arcar com as obras necessárias; portanto, o apoio governamental é essencial”, ressalta Ferrara.
Os principais problemas que elevam o risco na Vila Joaninha incluem:
- Falta de drenagem: As águas pluviais e residuais são despejadas diretamente em barrancos, potencializando riscos de deslizamentos em 18 setores.
- Cortes de barrancos: Sua proteção inadequada aumenta a vulnerabilidade, com 12 setores identificados.
- Construções irregulares: Domicílios situados em áreas próximas aos barrancos, observados em seis setores.
O PCRA não se limita a um diagnóstico, propondo medidas estruturais e não estruturais que podem ser implementadas pelos próprios moradores ou com apoio do Estado. Entre as ações, destaca-se a criação de uma comissão permanente de moradores para monitoramento das áreas de risco.
O Papel da Comunidade
A equipe responsável pela elaboração do PCRA contou com a participação ativa de 15 membros, incluindo técnicos da Prefeitura Municipal de Diadema, mobilizadores comunitários e moradores. “A experiência adquirida durante o desenvolvimento do PCRA foi mais valiosa do que um curso universitário”, afirma uma das líderes comunitárias, Maria Edineuma dos Santos. A colega Eliete Leite acrescenta que o plano facilitou a comunicação entre os moradores, promovendo um enfoque mais humanizado nas interações.
Jeroen Klink, diretor do CEFAVELA, destaca: “Atualmente, estamos trabalhando em 12 planos em diversas comunidades e a metodologia adotada na Vila Joaninha pode servir de modelo para futuras iniciativas.” Rosana Denaldi, vice-diretora, reconhece o envolvimento notável da comunidade e enfatiza que o PCRA é um instrumento crucial para que a população dialogue com as autoridades em busca de melhorias.
Contexto da Vila Joaninha
Originada de um parcelamento irregular e sem infraestrutura adequada, a Vila Joaninha enfrentou muitos desafios, incluindo a proximidade do Lixão do Alvarenga, que trouxe impactos negativos à saúde pública e ao meio ambiente. Um levantamento realizado pelo Instituto Corda em 2023 revelou que, dos 1.229 lotes na Vila, 71% estão ocupados.
Os dados mostram que 58% da população local é composta por crianças, adolescentes e jovens, e que a maioria (51%) das famílias recebe entre um e três salários mínimos. Apenas 35% dos adultos têm carteira assinada, e 53% dos responsáveis familiares são mulheres.
O PCRA da Vila Joaninha está disponível para consulta na íntegra aqui.
Informações obtidas de Janaína Simões, do CEFAVELA.
Informações da Agência FAPESP
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