banner

Pesquisa Identifica Áreas Prioritárias para Diminuir Mortes de Araras por Choque Elétrico

4 Min

Conservação da Arara-Azul-de-Lear: Mitigando Eletrocussões

A arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari), uma espécie endêmica do norte da Bahia, enfrentou quase a extinção nos anos 1990. Contudo, devido a ações de conservação, sua população cresceu para aproximadamente 2.500 indivíduos. Esse aumento populacional, infelizmente, coincide com uma rápida expansão da rede elétrica na região, que cresceu cerca de 30% entre 2018 e 2023. Entre janeiro e agosto de 2025, 35 araras foram encontradas mortas, vítimas da eletroplessão, que é a lesão acidental causada pela eletricidade.

Mapeamento de Risco

Um estudo recente apoiado pela FAPESP analisou os locais mais propensos a acidentes envolvendo araras, especialmente em municípios com 90% da população da espécie na região do Raso da Catarina. O mapeamento considerou 78 eletroplessões relatadas entre 2005 e 2022, a configuração da malha elétrica e as áreas de atividade da arara-azul-de-lear.

De acordo com a pesquisa publicada no Journal of Applied Ecology, mudanças em apenas 10% dos postes mais arriscados poderiam reduzir os acidentes em até 80%. Segundo Larissa Biasotto, primeira autora do estudo e membro da BirdLife International, o objetivo é identificar áreas prioritárias para implementar modificações nos postes, evitando assim novas mortes e interrupções no fornecimento de energia.

Dados da Pesquisa

Biasotto, durante seu doutorado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), obteve dados da rede elétrica nacional através da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Seu foco era identificar quais espécies de aves e biomas eram mais afetados pela eletricidade. Em 2021, um primeiro mapeamento já havia destacado a arara-azul-de-lear como prioritária para a mitigação de eletroplessões.

Pesquisas complementares realizadas por Erica Pacífico, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), identificaram um aumento significativo de eletroplessões em municípios baianos, com mais de 70 aves mortas contadas desde 2008 apenas por moradores que relataram as carcaças. Pacífico observa que esse número pode ser conservador, já que não contabiliza aves que morreram em áreas remotas.

Intervenções Necessárias

O estudo sugere que, para mitigar os efeitos da eletrocussão, pode ser necessário intervir em 1% dos postes de maior risco, prevendo a redução de 35% dos acidentes, ou até 60% com 5% de intervenção. Entretanto, para garantir a viabilidade populacional da arara, os autores recomendam alterações em 10% a 20% dos postes.

Eletrocussões ocorrem quando os animais tocam fios de alta e baixa voltagem simultaneamente. Uma proposta do Ministério Público da Bahia inclui aumentar a distância entre os fios, necessitando que a empresa responsável faça alterações nas estruturas.

Desafios e Soluções

Outra solução possível é o desenvolvimento de dispositivos que isolem as estruturas elétricas e criem um ambiente seguro para as araras. No entanto, instalações de teste na Bahia enfrentaram dificuldades devido a fatores climáticos e ao material utilizado.

Diferente de aves solitárias, as araras-azuis-de-lear vivem em grupos, o que requer dispositivos adaptados à sua realidade. Além disso, o modelo de mapeamento desenvolvido pode servir no futuro para incluir outras aves da região, como a ararinha-azul (Cyanopsitta spixii), que também pode se beneficiar de estratégias de mitigação.

O artigo completo intitulado "Mapping priority areas to mitigate the risk of electrocution of range-restricted bird species" pode ser lido aqui.

Informações da Agência FAPESP

Curtiu? Siga o Candeias Mix nas redes sociais: Twitter, Facebook, Instagram, e Google Notícias. Fique bem informado, faça parte do nosso grupo no WhatsApp e Telegram.
Compartilhe Isso