Uso Sustentável da Lignina para Aumentar a Eficiência de Herbicidas
Pesquisadores das universidades Estadual Paulista (Unesp), Estadual de Campinas (Unicamp) e Federal de São Carlos (UFSCar) realizaram um estudo sobre o aproveitamento da lignina, um polímero orgânico presente na biomassa vegetal, para melhorar o desempenho de nanopartículas contendo herbicidas. O trabalho foi destacado na capa da revista ACS Sustainable Chemistry and Engineering.
Lignina: Potencial não Aproveitado
A lignina, frequentemente tratada como um resíduo na indústria de papel e celulose, possui importantes propriedades antioxidantes e estruturais. Segundo Leonardo Fraceto, professor do Instituto de Ciência e Tecnologia da Unesp, a pesquisa busca valorizar este material abundante e renovável de maneira sustentável. O estudo foi apoiado por importantes projetos da FAPESP, voltados para a utilização e valorização da biomassa.
Extração e Análise de Frações de Lignina
Os pesquisadores obtiveram lignina do Eucalyptus urograndis, utilizando um processo verde com ácido acético, que resultou em diferentes frações com propriedades químicas e estruturais singulares. Essas frações foram então incorporadas em nanopartículas com atrazina, um herbicida amplamente utilizado para o controle de ervas daninhas.
Após a produção, essas nanopartículas passaram por análises físico-químicas e térmicas. As diferentes frações de lignina apresentaram variações significativas em suas composições, impactando diretamente a eficácia das nanopartículas. Algumas frações mostraram-se mais ricas em grupos fenólicos, enquanto outras contribuíram para uma maior estabilidade térmica.
Aplicações e Desafios
As frações de lignina demonstraram sua capacidade de proteger materiais poliméricos da degradação causada por raios ultravioleta, além de atuarem como estabilizantes em sistemas de liberação de ativos. Isso indica que a lignina, em vez de ser vista como um resíduo uniforme, pode ser adaptada para diversas aplicações na agricultura.
Entretanto, Fraceto ressalta desafios significativos, como a variabilidade na estrutura da lignina, que pode afetar a consistência e performance como agente estabilizante. No caso específico das nanopartículas com atrazina, a fração de lignina foi decisiva para aumentar a estabilidade e a eficiência na liberação do herbicida, mostrando potencial no gerenciamento sustentável de pragas, como o picão-preto (Bidens pilosa L.) e o caruru (Amaranthus viridis L.).
Conclusões e Perspectivas
O estudo abre novas possibilidades para a bioeconomia, ao demonstrarem que é viável usar processos simples e amigáveis ao meio ambiente para transformar um subproduto abundante em soluções para a agricultura. A pesquisa ilustra a intersecção entre ciência dos materiais, sustentabilidade e inovação, criando um caminho para insumos agrícolas mais ecológicos.
Leia o artigo completo: Lignin as a dual-function stabilizer for protecting PCL nanoparticles from photodegradation and enhancing atrazine delivery.
Informações da Agência FAPESP
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