A Impacto dos Microplásticos na Agricultura e Ecossistemas Aquáticos
A contaminação e morte de peixes por microplásticos estão se tornando uma preocupação crescente, não apenas pela redução desse alimento essencial, mas também por seus efeitos adversos na produção agrícola no Brasil.
Integração dos Ecossistemas Aquáticos e Terrestres
Durante a Escola São Paulo de Ciência Avançada sobre Poluentes Emergentes, Décio Luis Semensatto Junior, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), destacou a necessidade de analisar os impactos da ingestão de microplásticos por peixes de forma integrada. Segundo ele, “os ecossistemas aquáticos e terrestres estão conectados”.
Os peixes, predadores naturais de larvas de libélulas (Anisoptera), têm um papel crucial. Essas larvas, por sua vez, predem abelhas polinizadoras essenciais para cultivos como soja (Glycine max), café (Coffea), feijão (Phaseolus vulgaris L.) e laranja (Citrus sinensis). A morte de peixes por microplásticos pode levar ao aumento das larvas de libélulas, resultando em menor polinização e, consequentemente, em uma produção agrícola reduzida.
A Onipresença dos Microplásticos
Os microplásticos são derivados da degradação de plásticos maiores, como garrafas e sacolas, e já estão presentes em diversos organismos aquáticos. Por exemplo, a pulga-d’água (Daphnia magna), um microcrustáceo que desempenha um papel vital na filtragem de água, também tem sido impactada por nanoplásticos. Estudos laboratoriais encontraram até dois nanoplásticos no interior desses organismos, provenientes de itens comuns como tampas de garrafa.
Com o tempo, as propriedades químicas e físicas dos microplásticos se alteram ao longo de sua jornada nos ambientes aquáticos, complicando a identificação dos materiais originais. A exposição a fatores como radiação UV e água contribui para a degradação dos plásticos, promovendo a formação de nanoplásticos, que são ainda mais difíceis de rastrear.
Desafios e Considerações Finais
A discussão sobre a poluição plástica deve ser uma prioridade na pauta de tratados e acordos sobre mudanças climáticas, uma vez que 99% dos plásticos utilizados atualmente provêm de combustíveis fósseis. Semensatto alerta para o lento avanço das negociações internacionais, que carecem de um consenso eficaz. “A discussão sobre a poluição plástica está se movendo muito lentamente e é preciso avançar”, conclui.
Para garantir a sustentabilidade agrícola e a saúde dos ecossistemas, é vital tomar medidas para proteger os peixes da contaminação por microplásticos, enfatizando a intrínseca conexão entre a natureza e a produção alimentar.
Informações da Agência FAPESP
Curtiu? Siga o Candeias Mix nas redes sociais: Twitter, Facebook, Instagram, e Google Notícias. Fique bem informado, faça parte do nosso grupo no WhatsApp e Telegram.