Um estudo recente revela que o gênero de fungos Escovopsis, anteriormente entendido apenas como parasita de fungos associados a formigas, possui funções ecológicas mais complexas. Essa descoberta, publicada na revista Communications Biology, indica que os Escovopsis surgiram 18 milhões de anos antes das formigas às quais estão associados atualmente.
Análise do Gênero Escovopsis
Os pesquisadores analisaram 309 linhagens do gênero Escovopsis, coletadas em oito países das Américas. Eles estudaram fragmentos genômicos, características morfológicas, distribuição geográfica e filogenia das espécies, encontrando que a relação entre Escovopsis e as formigas-cortadeiras se estabeleceu há 38 milhões de anos. O surgimento deste gênero ocorreu cerca de 56,9 milhões de anos atrás.
Interações Ecológicas
Os autores propõem que Escovopsis pode ter surgido junto a grupos ancestrais das formigas que cultivam fungos, sugerindo a possibilidade de que esses fungos tenham existido inicialmente sem associação com formigas, atuando como colonizadores de folhas ou na degradação de matéria orgânica. As formigas-cortadeiras (subtribo Attina) cultivam fungos como fonte de alimento, e essa relação mutualística se formou há 66 milhões de anos.
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Montoya, primeiro autor do estudo, observa que Escovopsis, embora considerado um parasita, possui apenas uma entre 24 espécies conhecidas que pode infectar fungos cultivados por formigas.
Co-evolução e Adaptações
O estudo demonstra que, ao longo do tempo, os Escovopsis passaram por diversas adaptações morfológicas e fisiológicas, aumentando sua eficiência reprodutiva e sua habilidade de coexistir com as formigas. As vesículas que produzem conídios (estruturas reprodutivas) mudaram de um formato globoso para cilíndrico ao longo da evolução, melhorando a eficiência da reprodução assexuada.
As adaptações também afetaram a taxa de crescimento e a viabilidade de conídios, com espécies mais recentes apresentando maior eficiência reprodutiva do que suas antecessoras.
Importância da Pesquisa
Este trabalho é uma expansão de uma pesquisa mais ampla sobre Escovopsis, iniciada durante o doutorado de Montoya. Os resultados lançam luz sobre a ecologia e fisiologia desses fungos ainda pouco compreendidos, sugerindo que sua classificação como parasitas pode ser prematura. A única espécie amplamente reconhecida por causar infecções nas colônias de formigas é a Escovopsis weberi, mas experiências indicam que muitas linhagens não apresentam comportamento patogênico.
Os autores ressaltam a importância de considerar a presença das formigas nas interações entre Escovopsis e os fungos cultivados. A proteção oferecida pelas formigas pode distorcer percepções sobre a natureza das interações do fungo.
Conclusão
O estudo alerta para a complexidade das interações ecológicas envolvendo Escovopsis e formigas-cortadeiras. A pesquisa continua a explorar as funções não parasitárias e possíveis benefícios dessas relações, sublinhando a necessidade de entender melhor o papel de fungos menos conhecidos na dinâmica dos ecossistemas.
Para conferir o artigo completo, acesse: Nature Communications Biology.
Informações da Agência FAPESP
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