Uma descoberta recente pode transformar a compreensão sobre a manutenção da saúde óssea e abrir caminhos para o tratamento de doenças como a osteoporose. Pesquisadores da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (Forp-USP) identificaram que a proteína agrin, produzida por células chamadas osteócitos, desempenha um papel crucial na preservação da massa e qualidade ósseas.
O Papel dos Osteócitos na Saúde Óssea
Os osteócitos são células maduras derivadas dos osteoblastos, que são responsáveis pela formação do osso. Essas células atuam como reguladores, ajudando a manter o equilíbrio do tecido ósseo em um processo conhecido como homeostase, essencial para garantir que os ossos permaneçam fortes ao longo da vida.
Embora já se soubesse que a agrin é importante na regeneração do músculo cardíaco e na formação de cartilagem, a equipe liderada pelo professor Márcio Mateus Beloti, do Departamento de Biologia Básica e Oral da Forp-USP, foi a primeira a explorar seu papel no tecido ósseo. Os resultados, apoiados pela FAPESP, foram publicados no International Journal of Biological Macromolecules.
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Investigando a Agrin e os Osteoblastos
Em um estudo anterior de 2021, o grupo demonstrou que os osteoblastos produzem a proteína agrin. A investigação prosseguiu e foi realizado um experimento que mostrou que a eliminação da agrin dos osteoblastos reduz sua capacidade de se diferenciar e, assim, de formar matriz óssea mineralizada. Isso indica que a presença da proteína é essencial para a formação saudável do tecido ósseo.
O Papel Crítico da Agrin nos Osteócitos
Os pesquisadores se concentraram em um segundo tipo celular – os osteócitos – e levantaram a hipótese de que a agrin também poderia ser produzida por essas células e ter um papel vital em sua função. Utilizando camundongos geneticamente modificados, a equipe ativou a desativação da produção da proteína especificamente nos osteócitos. Essa estratégia permitiu um exame focado desse efeito sem comprometer a produção de agrin em outras partes do corpo.
Os resultados mostraram que os osteócitos realmente produzem a agrin e que sua ausência impactou significativamente a saúde óssea dos animais.
Resultados da Pesquisa
Os camundongos sem agrin nos osteócitos apresentaram uma redução significativa na massa óssea, com alterações físicas e químicas que comprometeram a estrutura óssea, tornando-a mais frágil. A perda de massa óssea foi em torno de 30%, e a densidade óssea foi reduzida em 30%. No teste de fratura, os ossos dos animais sem agrin exigiam 15% menos força para se romper.
Adicionalmente, a ausência de agrin comprometeu a maturação e a função dos osteócitos, desregulando o equilíbrio entre osteoblastos e osteoclastos.
Potencial Terapêutico da Agrin
Os resultados sublinham a importância da proteína agrin como um elo fundamental na comunicação entre osteócitos, osteoblastos e osteoclastos. Isso sugere que a agrin poderia ser um alvo para novas terapias. Estimular sua produção poderia ajudar a preservar a integridade do tecido ósseo, mesmo em casos onde a perda óssea não está diretamente relacionada à ausência da proteína.
Embora os avanços sejam animadores, a pesquisa ainda não determinou se existe uma doença relacionada à diminuição da produção de agrin em humanos. O próximo passo será investigar a relação entre agrin e o desenvolvimento da osteoporose, visando adaptar às necessidades de milhões de pessoas afetadas, especialmente na população idosa.
Para mais detalhes, o artigo Agrin-deficient osteocytes disrupt bone tissue homeostasis in male mice pode ser acessado em: www.sciencedirect.com.
Informações da Agência FAPESP