Um levantamento nas escolas de São Paulo evidencia a desigualdade entre os ambientes educacionais de adolescentes da rede pública e privada. A pesquisa incluiu 2.680 estudantes do 9º ano distribuídos em 119 instituições, revelando a presença de até 19 elementos de degradação nas escolas públicas estaduais. Os itens avaliados abarcam pichações, janelas quebradas, móveis danificados, banheiros entupidos e ventilação inadequada. O escore médio de desordem foi de 0,25 nas escolas particulares, 4,46 nas municipais (18 vezes maior) e 6,67 nas estaduais (27 vezes maior). O estudo foi publicado nos Cadernos de Pesquisa da Fundação Carlos Chagas.
A pesquisa revelou que 89,7% das escolas estaduais e 85,4% das municipais apresentavam ao menos uma forma de desordem, enquanto nas escolas particulares isso foi observado em 21,9% das instituições. "Em nenhuma delas registramos mais de dois elementos de desordem", aponta Cézar Luquine Júnior, principal autor do estudo.
Além da infraestrutura escolar, o entorno das instituições públicas também foi analisado. Observou-se uma maior presença de calçadas danificadas, pichações, iluminação pública inadequada e uso de drogas nas proximidades. “O ambiente degradado influencia comportamentos de risco, pois transmite uma mensagem de descaso e abandono aos adolescentes”, ressalta Luquine Júnior, doutorando da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP).
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A pesquisa utilizou quatro fontes de dados: questionários de estudantes, observação in loco das instalações escolares, questionários administrativos com diretores e dados do Censo da Educação Básica do Inep.
Embora o estudo não busque estabelecer relações causais entre o ambiente escolar e os comportamentos, as próximas investigações do pesquisador visam essa direção. Ele está analisando grupos de adolescentes com diferentes padrões de risco e planeja comparar esses dados com informações de Zurique, na Suíça, e Montevidéu, no Uruguai.
O estudo também constatou que a distorção idade-série no 9º ano afeta quase 20% dos alunos da rede pública, em contraposição a 4,6% nas particulares. "A diferença significativa nos ambientes educacionais impacta não apenas o rendimento escolar, mas também a percepção de acolhimento e segurança dos estudantes", destaca Luquine Júnior.
A Organização Mundial da Saúde e a Coalizão Global pelo Fim da Violência Contra Crianças e Adolescentes reconhecem a importância do ambiente escolar na prevenção da violência. “Este estudo, que relaciona características do contexto escolar e comportamentos de risco, é inédito no Brasil”, afirma Maria Fernanda Tourinho Peres, orientadora de Luquine Júnior na FM-USP. "Os resultados serão essenciais para orientar medidas de prevenção ao bullying e à violência escolar."
O artigo "Escolas, saúde e riscos na adolescência: Reflexões a partir do Estudo SP-Proso" pode ser acessado em: Cadernos de Pesquisa.
Informações da Agência FAPESP