Fogo e Ecossistemas Sul-Americanos: Um Olhar sobre a Biodiversidade
Nem sempre o fogo é inimigo da natureza. Em diversos ecossistemas, como o Cerrado e a Amazônia, ele pode ser essencial para a conservação da biodiversidade. A chave para entender esse fenômeno reside no contexto: clima, solo, vegetação, história evolutiva e, principalmente, o uso que os seres humanos fazem do fogo. Essas são as ideias centrais exploradas no livro Fire in the South American Ecosystems (Fogo nos Ecossistemas Sul-Americanos), lançado pela editora Springer.
Importância do Livro
Organizado pelas ecólogas Alessandra Fidelis, professora da Universidade Estadual Paulista (Unesp), e Vânia Pivello, docente da Universidade de São Paulo (USP), esta obra é o primeiro compêndio científico dedicado exclusivamente ao fogo nos ecossistemas da América do Sul. O livro conta com 14 capítulos escritos por 56 autores de diversas instituições de países como Brasil, Argentina, Uruguai, Chile, Colômbia, Venezuela, França, Alemanha, Portugal e Estados Unidos, tratando de campos, savanas, florestas e áreas úmidas – desde o Cerrado até a Amazônia.
Fogo: Desastre ou Manejo?
Durante muito tempo, o fogo foi visto como um agente de desastre. No entanto, para povos indígenas e comunidades tradicionais, é uma ferramenta de manejo essencial para a proteção e sobrevivência. Alessandra Fidelis destaca a importância de reunir o conhecimento acumulado nas últimas décadas sobre este tema controverso.
Lacunas na Literatura Internacional
Esta publicação responde a uma lacuna histórica na literatura internacional, que até recentemente focava apenas em incêndios florestais no hemisfério Norte. Como menciona William Bond, professor emérito da Universidade da Cidade do Cabo, muitos ecossistemas sul-americanos, como o Cerrado, são dominados por gramíneas C4 altamente inflamáveis, cuja história evolutiva está intimamente ligada ao fogo.
Usos Tradicionais do Fogo
Um dos capítulos mais significativos do livro discute os usos tradicionais do fogo por comunidades locais, com ênfase no rico conhecimento empírico que vem sendo gradualmente integrado em políticas públicas, especialmente na Bolívia. Vânia Pivello observa a necessidade de superar o paradigma eurocêntrico que criminaliza o uso do fogo, já que a exclusão total pode causar mais problemas do que benefícios.
Regiões em Foco
O livro também apresenta capítulos sobre regiões específicas, analisando o fogo como um fator ecológico, histórico e político. Exemplos incluem o Cerrado, os Pampas, o Pantanal e a floresta Amazônica.
Impactos das Mudanças Climáticas
No capítulo "Fire in the Anthropocene", pesquisadores brasileiros discutem os impactos das mudanças climáticas e do desmatamento nos regimes de fogo, alertando para o aumento da frequência e intensidade de incêndios em áreas antes protegidas.
Desafios e Oportunidades
As organizadoras, junto com outros especialistas, discutem os principais desafios e oportunidades para o manejo do fogo nos próximos anos. A agenda proposta inclui: reconhecimento da diversidade ecológica e cultural dos regimes de fogo, integração do conhecimento científico com saberes tradicionais e elaboração de políticas públicas flexíveis.
Conclusão
Este livro contribui para a consolidação da pesquisa brasileira sobre o uso criterioso do fogo e busca ampliar o alcance do conhecimento produzido na América do Sul, que tradicionalmente está menos acessível à comunidade internacional. A expectativa é que essas informações ajudem analistas ambientais e formuladores de políticas públicas a tomarem decisões mais sensatas.
Para mais informações sobre Fire in the South American Ecosystems, acesse o site da editora: Springer.
Informações da Agência FAPESP