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Como a Perda de Áreas Naturais e a Introdução de Espécies Exóticas Afetam a Pesca no Rio Paraná

4 Min

Queda do Rendimento Pesqueiro no Alto Rio Paraná

O rendimento pesqueiro no Alto Rio Paraná, que abrange a divisa entre São Paulo, Paraná e Mato Grosso do Sul, registrou uma queda de aproximadamente 50% nas últimas duas décadas. Essa diminuição é atribuída principalmente à invasão de espécies exóticas e à crescente ocupação humana na região, conforme indica um estudo recente publicado na Nature Ecology & Evolution.

Análise dos Dados do PELD-PIAP

Os pesquisadores analisaram dados do Programa Ecológico de Longa Duração da Planície de Inundação do Alto Rio Paraná (PELD-PIAP), que desde 2000 investiga a biodiversidade e as condições ambientais da área. Durante o período de 2002 a 2022, observou-se uma diminuição no tamanho médio dos peixes pescados comercialmente, impactando os ganhos econômicos que encolheram pela metade.

“Com a degradação ambiental causada pela atividade humana, espécies nativas como o pintado (Pseudoplatystoma corruscans) se tornaram menos abundantes e diminuíram de tamanho, enquanto o tucunaré (Cichla sp.), espécies invasora da bacia amazônica, aumentou em tamanho e população,” explica Dieison Moi, primeiro autor do estudo.

Impactos Econômicos da Substituição de Espécies

A troca de espécies nativas por invasoras traz consequências econômicas significativas para os pescadores. Os peixes nativos, que possuem valor de mercado 80% superior aos invasores, estão cada vez mais escassos. Por exemplo, enquanto o pintado custava cerca de R$ 47 (US$ 8,26) por quilo, o tucunaré estava avaliado em apenas R$ 9 (US$ 1,65).

Gustavo Quevedo Romero, professor do IB-Unicamp e autor sênior do estudo, destaca que esse fenômeno de substituição de espécies nativas por invasoras é global. Entretanto, poucos estudos, como este, apresentam uma amostragem contínua que esclarece a magnitude do problema.

Ocupação Humana e Biodiversidade

O Paraná, com suas 5.695 quilômetros de extensão, é o segundo maior rio da América do Sul e abriga 32% da população brasileira em apenas 10% do território nacional. A construção da Usina Hidrelétrica Itaipu Binacional em 1984 alterou os ecossistemas locais, impactando a fauna nativa de forma significativa.

Esse estudo analisou oito ambientes – cinco lagos e três rios – amostrando-os quatro vezes ao ano. Uma correlação foi observada entre a perda de espécies nativas e a intensificação da ocupação humana. Para 31 espécies nativas, a diminuição de biomassa está relacionada a fatores como desmatamento e urbanização, com apenas três espécies nativas se beneficiando da situação.

Em contraste, 20 espécies invasoras prosperaram, evidenciando o impacto negativo da ocupação humana. O aumento do tamanho corporal das espécies nativas foi associado ao potencial pesqueiro da região, enquanto as invasoras diminuíram esse potencial.

Necessidade de Estratégias de Conservação

Os resultados indicam que a presença de espécies não nativas erode os serviços ecossistêmicos da região. A degradação das áreas naturais favorece as espécies invasoras, reduzindo a presença e o tamanho das nativas, o que afetou negativamente a pesca.

A pesquisa conclui que desenvolver estratégias de conservação e manejo dos recursos naturais é fundamental e deve ser priorizado em detrimento da introdução de espécies não nativas. Políticas públicas devem se basear em evidências científicas providecidas por estudos de longo prazo como o PELD-PIAP para proteger tanto as espécies quanto as comunidades humanas.

Colaboração Internacional

O estudo contou com a colaboração de pesquisadores de diversas instituições, incluindo universidades no Brasil, Uruguai e Reino Unido, e recebeu apoio da FAPESP por meio de projetos no âmbito do Programa BIOTA. O artigo completo pode ser lido em Nature.

Informações da Agência FAPESP

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