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Desafios das Formas Silenciosas de Malária na Eliminação da Doença no Brasil

4 Min

Assintomaticidade da Malária em Áreas Urbanas da Amazônia: Implicações para o Controle da Doença

Pesquisas recentes indicam que, em contextos de baixa transmissão, a maioria das infecções por malária em áreas urbanas da Amazônia pode ser assintomática e não detectada pelos exames de rotina. Estas conclusões são fundamentadas em estudos populacionais realizados em Mâncio Lima e Vila Assis Brasil, no Acre, áreas com alta incidência da doença no Brasil.

O Impacto da Assintomaticidade nas Estratégias de Controle

Os estudos estão integrados ao Projeto Temático “Variação individual no risco de malária: causas e consequências em populações amazônicas”, financiado pela FAPESP e contando com a colaboração de instituições brasileiras e internacionais. As pesquisas revelaram que, à medida que a transmissão da malária diminui, a detecção dos parasitas causadores da doença por microscopia se torna cada vez mais difícil. Este método é o principal diagnóstico utilizado na rede pública. Segundo o professor Marcelo Urbano Ferreira, essa redução não significa que o problema está resolvido; ao contrário, pode criar um "reservatório oculto" de infecções que perpetuam a transmissão local.

Metodologia e Resultados das Pesquisas

Mais de 2.700 moradores da área urbana de Mâncio Lima foram acompanhados em diversas coletas de sangue ao longo dos anos. As amostras foram analisadas por microscopia e métodos moleculares mais sensíveis, como PCR, que identificaram até dez vezes mais infecções do que a microscopia tradicional. Interessantemente, mais de 90% dessas infecções eram assintomáticas, sem os sintomas comuns que levam ao diagnóstico.

Para enfrentar essa realidade, o município começou a aplicar a busca ativa-reativa, uma estratégia recomendada pela Organização Pan-Americana da Saúde (Opas). Essa abordagem, que consiste em visitar lares de pessoas diagnosticadas com malária para testar familiares e vizinhos assintomáticos, foi associada à redução dos casos notificados no município durante o estudo, embora outros fatores também tenham contribuído.

Desafios para a Vigilância e Diagnóstico

Outro achado relevante é que, apesar de densidades parasitárias semelhantes, a chance de um exame microscópico identificar o parasita diminuiu consideravelmente ao longo do tempo. Essa perda de sensibilidade complica a detecção e o tratamento eficaz da malária.

Nas investigações na comunidade de Vila Assis Brasil, os pesquisadores notaram que, mesmo com a aplicação de larvicidas para reduzir a densidade de mosquitos transmissores, os índices de infecção detectados por métodos moleculares caíram menos do que os casos clínicos. Isso sugere que a população pode tolerar infecções sem apresentar sintomas, complicando ainda mais a vigilância baseada em sinais clínicos.

A Necessidade de Nova Abordagem no Combate à Malária

Um terceiro estudo, atualmente em andamento, investiga por que a malária persiste em áreas de baixa transmissão. A pesquisa revela um padrão no qual cerca de 20% da população concentra até 80% das infecções por Plasmodium vivax, chamando a atenção para os chamados "superdisseminadores". Esses indivíduos, suscetíveis por fatores genéticos, comportamentais ou imunológicos, mantêm a transmissão ativa na comunidade, mesmo com a diminuição dos casos clínicos.

Os resultados reforçam a urgência de incorporar tecnologias moleculares no diagnóstico da malária, especialmente em contextos de baixa transmissão, além de redesenhar estratégias de vigilância que não dependam exclusivamente da manifestação de sintomas.

Conclusão

Para que o Brasil alcance a meta de eliminação da malária até 2035, será fundamental investir em novos métodos de diagnóstico e ações direcionadas a populações vulneráveis, como trabalhadores rurais e moradores de áreas periurbanas. A atualização nas abordagens de controle e vigilância pode assegurar uma resposta mais eficaz e abrangente ao problema da malária.

Informações da Agência FAPESP

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