Avanços na Medicina de Precisão: Identificação de Genes para Predizer Respostas à Imunoterapia no Melanoma
Pesquisadores brasileiros deram um passo significativo na medicina de precisão ao identificar quatro genes que podem prever quais pacientes com melanoma não responderão à imunoterapia. Este tratamento revolucionou o combate ao melanoma, o tipo mais agressivo de câncer de pele, mas sua eficácia ainda varia bastante e o custo elevado limita seu uso, especialmente no Sistema Único de Saúde (SUS). O objetivo da pesquisa é desenvolver métodos para identificar pacientes que se beneficiariam da terapia, diminuindo assim os custos na rede pública.
A Gravidade do Melanoma
O melanoma representa cerca de 4% dos tumores de pele, mas é o mais letal devido à sua alta capacidade de metastizar. No Brasil, o Instituto Nacional de Câncer (Inca) registra aproximadamente 9 mil novos casos e quase 2 mil mortes anualmente por conta desta doença. Sabe-se que o melanoma é altamente imunogênico e, portanto, responde bem à imunoterapia, que estimula o sistema imunológico a combater células cancerígenas.
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Imunoterapia e Desafios Clínicos
Dentre os diferentes tipos de imunoterapia, o bloqueio da proteína PD-1 se tornou um padrão para casos avançados de melanoma. No entanto, entre 40% e 60% dos pacientes apresentaram baixa resposta a este tratamento, além de potenciais efeitos colaterais. Essa situação provoca desafios clínicos e econômicos, especialmente em países como o Brasil, onde o acesso à imunoterapia no SUS é restrito, mesmo com recomendações para sua inclusão na rede pública.
Identificação de Marcadores Genéticos
A engenheira biotecnológica Bruna Pereira Sorroche liderou uma investigação sobre a possibilidade de identificar marcadores genéticos que indicassem a eficácia da imunoterapia em pacientes com melanoma. O estudo, apoiado pela FAPESP, analisou amostras de tumores de 35 pacientes tratados com imunoterapia anti-PD-1 entre 2016 e 2021. Os resultados foram publicados no Journal of Molecular Medicine.
Os pesquisadores identificaram quatro genes – CD24, NFIL3, FN1, e KLRK1 – cuja expressão elevada está significativamente associada à resistência ao tratamento. Pacientes com alta expressão desses genes apresentaram um risco 230 vezes maior de não responder à imunoterapia em comparação àqueles com baixa expressão.
Mecanismos de Evasão Imunológica
A pesquisa revelou que esses genes estão associados a mecanismos de evasão do sistema imunológico. Por exemplo, o CD24 age como um ponto de checagem imunológico, auxiliando o tumor a escapar da resposta do corpo. O FN1 está ligado à progressão tumoral, enquanto o KLRK1, normalmente envolvido na ativação das células imunes, pode ter sua função prejudicada. O NFIL3 também desempenha um papel crucial na resposta imunológica.
Validação dos Resultados
Para validar os achados, a equipe comparou os resultados com dados de duas coortes internacionais independentes, demonstrando que a assinatura genética manteve sua eficácia na previsão da resposta ao tratamento. O uso da tecnologia NanoString, uma plataforma de análise genética mais acessível, torna sua aplicação mais viável na prática clínica.
Além disso, a assinatura genética também foi preditiva em pacientes diagnosticados nas fases iniciais da doença, sugerindo que o perfil genético do tumor pode ser útil desde o início do tratamento.
Futuro da Oncologia Personalizada
A equipe já está em fase de patenteamento da tecnologia, com a intenção de criar um painel que permita avaliar, antes da indicação de tratamento, se o paciente terá ou não chances reais de se beneficiar da imunoterapia. Isso poderá auxiliar no direcionamento de recursos e na decisão médica, evitando gastos desnecessários.
Apesar da limitação do estudo a um número reduzido de pacientes e dados retrospectivos, os resultados abrem um caminho promissor para personalizar o tratamento do melanoma, minimizando os efeitos colaterais de terapias ineficazes. O próximo passo é ampliar os estudos para validar os achados e estabelecer um ponto de corte de expressão genética.
Essa inovação pode ser um divisor de águas na oncologia personalizada no Brasil, oferecendo um tratamento mais adequado e eficiente para os pacientes.
O artigo completo intitulado CD24, NFIL3, FN1, and KLRK1 signature predicts melanoma immunotherapy response and survival pode ser acessado aqui: Journal of Molecular Medicine.
Informações da Agência FAPESP