Um grupo de pesquisadores do Brasil, Costa Rica e Europa fez uma descoberta significativa ao isolar e cultivar, pela primeira vez, o Morbillivirus a partir de morcegos hematófagos da América Latina. Este vírus pertence à mesma família do sarampo humano e da cinomose canina, sendo considerado altamente contagioso.
Relevância da Pesquisa
Essa descoberta é crucial para expandir o entendimento sobre a diversidade desses patógenos na natureza e seu potencial risco para a saúde pública. O isolamento do vírus permite o estudo detalhado da sua estrutura, genética e modos de infecção, possibilidade para o desenvolvimento de testes diagnósticos, fármacos e vacinas.
Metodologia e Resultados
O projeto resultou de 14 anos de pesquisa, abrangendo a análise de mais de 1.600 morcegos, incluindo hematófagos, insetívoros e frugívoros. Os achados foram publicados na Nature Microbiology, onde o artigo foi destaque de capa e tema de editorial. O estudo é fundamental para a implementação do novo Acordo sobre Pandemias, aprovado pela OMS em maio.
Leia Também
Embora sinais genéticos de Morbillivirus já tivessem sido detectados em morcegos anteriormente, o isolamento de amostras clínicas não havia sido realizado até então. Os pesquisadores conseguiram sequenciar geneticamente diversas amostras, identificando novas linhagens virais e investigando como o vírus interage com células hospedeiras.
Desafios Enfrentados
Uma das principais barreiras foi desenvolver linhagens celulares específicas que expressassem receptores compatíveis com os vírus, já que os morcegos usam receptores diferentes dos do sarampo. Com engenharia genética, os cientistas superaram esse desafio.
Elevadas concentrações virais foram detectadas em vários órgãos dos morcegos, como rins e pulmões, indicando infecções sistêmicas não letais. A maioria dos patógenos foi encontrada em morcegos neotropicais, consolidando esses animais como reservatórios naturais de Morbillivirus.
Implicações para a Saúde Pública
Luiz Gustavo Góes, biólogo do Institut Pasteur de São Paulo, enfatiza que os morcegos são reservatórios importantes de vírus altamente contagiosos. Importante notar que o estudo revelou que o Morbillivirus não utiliza o receptor humano CD150, indicando que não apresenta, no momento, a capacidade de infectar humanos.
A pesquisa recebeu apoio da FAPESP, contemplando diferentes aspectos da eco-epidemiologia e caracterização molecular de coronavírus em morcegos. Este suporte é essencial para monitorar potenciais adaptações virais.
Vigilância e Futuras Pesquisas
Angélica Cristine Almeida Campos, também autora do estudo, aponta que a presença do Morbillivirus em morcegos não representa uma ameaça imediata. Contudo, os dados coletados são fundamentais para a vigilância de futuras infecções. Os resultados filogenéticos sugerem que os vírus encontrados estão próximos à origem da família Morbillivirus, oferecendo insights sobre sua evolução.
Adicionalmente, os pesquisadores identificaram Morbillivirus em macacos silvestres, indicando a potencial transmissão entre espécies, reforçando a necessidade de vigilância na biodiversidade.
Colaboração Internacional
Assinado por uma equipe internacional, o artigo conta com a contribuição de pesquisadores de diversas instituições, destacando a importância da colaboração na pesquisa científica. Em projetos futuros, Góes pretende estudar a diversidade de paramixovírus em morcegos da Mata Atlântica, um hotspot de biodiversidade.
O artigo Ecology and evolutionary trajectories of morbilliviruses in Neotropical bats pode ser acessado aqui.
Informações da Agência FAPESP
Curtiu? Siga o Candeias Mix nas redes sociais: Twitter, Facebook, Instagram, e Google Notícias. Fique bem informado, faça parte do nosso grupo no WhatsApp e Telegram.