Estudantes brasileiros em escolas vulneráveis a desastres climáticos
Dos mais de 26 milhões de estudantes brasileiros no ensino médio, 57,6% (15 milhões) estudam em instituições com baixa ou mínima resiliência a enchentes, e 33,8% (8 milhões) em escolas não preparadas para enfrentar secas. Essas informações são resultado de um estudo do Observatório Nacional de Segurança Hídrica e Gestão Adaptativa (ONSEADAdapta), um Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) financiado pelo CNPq.
Os resultados preliminares foram apresentados em uma mesa-redonda sobre emergência climática e gestão adaptativa, realizada durante a 77ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), na Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). No último ano, mais de 1 milhão de estudantes no Brasil perderam aulas devido a eventos climáticos extremos, como secas e enchentes.
Os pesquisadores usaram o Índice de Segurança Hídrica (ISH), uma ferramenta para avaliar e monitorar a segurança hídrica no país, combinando-o com mapas georreferenciados para identificar as escolas impactadas por eventos climáticos nefastos. As análises indicaram que quase 5 milhões de estudantes estão em áreas com baixa resiliência a inundações, e cerca de 1 milhão em regiões altamente vulneráveis à seca.
Durante a seca severa na Amazônia, muitos alunos não puderam frequentar a escola devido à baixa navegação. Medidas como arrecadação de fundos para suprimentos escolares e apoio aos professores foram adotadas para mitigar os impactos. O termo “resiliência pedagógica” se refere às práticas educativas implementadas pelos professores para enfrentar essas interrupções.
A gestão de risco de desastres é uma premissa fundamental na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), destacando a importância de ações integradas para garantir a continuidade do ensino em situações de crise.
Desafios das secas no Brasil
Os eventos extremos de seca são considerados os que mais impactam o país. Segundo o pesquisador do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), as secas têm consequências socioeconômicas significativas. As regiões mais afetadas incluem o Sul do Brasil, partes da Amazônia e o Nordeste.
Os fenômenos de seca variam em duração e intensidade, podendo ser curtos, médios ou longos. O Brasil enfrenta um aumento na frequência de chuvas intensas seguidas por períodos prolongados de seca. Essa mudança no padrão climático gera um aumento nos níveis de rios, frequentemente resultando em transbordamentos e eventos extremos.
Para monitorar e enfrentar a seca no Brasil, o Cemaden desenvolveu, desde 2012, um índice integrado que fornece informações aos municípios sobre a situação hídrica, com foco também na agropecuária e terras indígenas.
Impactos na saúde das populações indígenas
As secas na Amazônia durante 2023 e 2024 têm contribuído para problemas de saúde mental nas populações indígenas, que enfrentam ansiedade em relação à disponibilidade dos rios. A poluição, agravada por queimadas, também interfere na saúde dessas comunidades, levando a um aumento na aversão ao consumo de água dos rios e, consequentemente, a quadros de desidratação.
Esse cenário evidencia a necessidade de estratégias de resiliência e adaptação que envolvam não apenas a gestão hídrica, mas também a saúde e a educação das populações vulneráveis, garantindo assim um futuro mais seguro e sustentável para todos.
Informações da Agência FAPESP