Preservação de Florestas no Brasil: O Papel dos Proprietários Rurais
A legislação brasileira exige que todas as propriedades rurais mantenham áreas para preservação de florestas. Essas áreas incluem as Áreas de Proteção Permanente (APPs), que devem ser mantidas ou restauradas, e as Reservas Legais, onde a vegetação nativa pode ser explorada de forma sustentável. Juntas, essas áreas representam 54% da vegetação nativa remanescente do Brasil, destacando a relevância da participação dos proprietários rurais nas políticas de conservação ambiental.
Um estudo publicado na Restoration Ecology por pesquisadores da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq-USP) analisou as motivações dos proprietários rurais do Estado de São Paulo em relação às áreas florestais em suas propriedades. O foco da pesquisa foi entender como as percepções sobre os benefícios da floresta podem impactar a conservação e a restauração florestal.
Foram entrevistados 90 proprietários rurais de 13 municípios paulistas, com foco em três aspectos principais: as motivações para diminuição, manutenção ou ampliação da cobertura florestal; os benefícios observados na preservação dessas áreas; e a disposição para a restauração florestal.
Os resultados indicaram que proprietários com grandes áreas tendem a desmatar mais, citando como justificativas incentivos governamentais históricos, aumento da renda e da área agrícola. Já os proprietários que mantiveram suas áreas florestais destacaram a conservação da água e o cumprimento da legislação como principais motivadores. Aqueles que ampliaram a cobertura florestal mencionaram a legislação, a conservação da água e a necessidade de terras inadequadas para agricultura.
A conservação da água foi o benefício mais citado entre os entrevistados, com 89% percebendo uma redução na disponibilidade de água desde 1985, atribuída a fatores como desmatamento e uso irracional da água. Apesar da disposição para restaurar áreas florestais, a maioria dos proprietários concentra suas contribuições na preservação e manutenção das florestas existentes, com apenas 2% dispostos a investir ativamente em restauração.
Os critérios de seleção dos entrevistados incluíram a análise da vegetação nativa entre 1985 e 2015, parte do projeto Compreendendo florestas restauradas para o benefício das pessoas e da natureza, vinculado ao Programa BIOTA-FAPESP.
Em relação ao perfil dos entrevistados, 57% têm sua renda principal na agricultura e pecuária. Embora a maioria tenha acesso a educação formal e assistência técnica, muitos não se mostram dispostos a contribuir ativamente para a restauração florestal, mesmo sob exigência legal.
Os dados indicam que o sequestro de carbono não é visto como uma prioridade, com apenas 9% dos produtores percebendo isso como um benefício. A melhoria da comunicação sobre os benefícios econômicos e sociais da conservação e restauração florestal é essencial para engajar mais proprietários.
A pesquisa sugere que o aspecto econômico é fundamental nas decisões dos proprietários. No entanto, iniciativas como o mercado de carbono precisam ser acompanhadas de conversas sobre uma transição para a agricultura ecológica, que integre a restauração das florestas.
O artigo Determinants of farm-level land use decisions and perceptions of associated ecosystem services in the Brazilian Atlantic Forest está disponível em: Restoration Ecology.
Por meio desta análise, o estudo oferece insights valiosos sobre a relação entre proprietários rurais e a conservação florestal, destacando a necessidade de uma abordagem mais integrada e informada para promover práticas sustentáveis no Brasil.
Informações da Agência FAPESP
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