O Teste Trinity, realizado em 16 de julho de 1945, marca um ponto crucial na história científica e militar dos Estados Unidos. Durante o primeiro teste de uma bomba nuclear do mundo, o Exército detonou um dispositivo, liberando uma energia equivalente a 21 quilotons de TNT. Essa explosão transformou não apenas o cenário do teste, mas também deu origem a um mineral único: a trinitita. As chegadas conclusões sobre esse material revelam (ou, melhor dizendo, foram reveladas) aspectos surpreendentes da física do universo, incluindo a descoberta de quasicristais.
Os quasicristais são particulados raros que desafiam as normas da cristalografia convencional. Enquanto em cristais "normais" – como os de sal de cozinha ou de diamantes – os átomos se organizam em uma estrutura de rede repetitiva tridimensional, os quasicristais apresentam padrões organizacionais que não se repetem. Como resultado, eles se situam em um meio-termo entre ordem e desordem. Essa particularidade foi discutida em um estudo recém-publicado na revista científica PNAS.
A explosão do Teste Trinity resultou em efeitos devastadores. O próprio dispositivo de teste, com uma torre de 30 metros conectada a quilômetros de fios de cobre, foi instantaneamente vaporizado. A intensa bola de fogo resultante fundiu a estrutura com asfalto e areia do deserto, criando um vidro verde com quasicristais: a trinitita.
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Conforme o geofísico Terry Wallace, do Laboratório Nacional de Los Alamos, quasicristais surgem em ambientes extremos que são raros na Terra. Ele revelou, em 2021, que esses materiais requerem condições de choque, temperatura e pressão extreme. E tais condições são típicas de eventos tão dramáticos quanto explosões nucleares. Assim, a formação de quasicristais a partir de uma bomba atômica articula a profundidade desta descoberta científica.
A história não termina nesse mineral verde; uma investigação mais aprofundada foi dirigida por uma equipe de cientistas liderada pelo geólogo Luca Bindi, da Universidade de Florença, na Itália. Esses pesquisadores focaram na trinitita não convencional, uma versão mais rara: a trinitita vermelha. Essa coloração peculiar veio da incorporação de fios de cobre vaporizados. Ao examinarem seis amostras, eles usaram técnicas avançadas, como microscopia eletrônica e difração de raios-X. O que descobriram foi fascinante: um grão de 20 lados composto de diferentes elementos, como silício, cobre, cálcio e ferro, e apresentando simetria rotacional de cinco vezes – algo impensável em cristais convencionais.
Wallace enfatizou a complexidade majestosa do quasicristal, embora ninguém ainda possa explicar a razão de sua formação de tal forma. Ele antecipa que no futuro, algum cientista ou engenheiro poderá decifrar os mistérios termodinâmicos por trás da criação desta fascinante estrutura.
Além das descobertas científicas, as pesquisas relacionadas ao quasicristal da trinitita oferecem insights potenciais a respeito de testes nucleares ilícitos, projetando um futuro onde esse conhecimento possa contribuir para a contenção da proliferação nuclear.
Até hoje, os únicos ataques nucleares em combate ocorreram durante a Segunda Guerra Mundial, quando os Estados Unidos lançaram duas bombas atômicas sobre o Japão, em um esforço desesperado para encerrar o conflito. Esses eventos catastróficos ainda reverberam na civilização moderna, refletindo a evolução das armas nucleares. Hoje, cerca de 12,7 mil ogivas nucleares permanecem ativas em todo o mundo, especialmente em potências militares como Rússia, Estados Unidos, França, Reino Unido e China.
O estudo sobre a trinitita e os quasicristais continua a fornecer informações significativas sobre as forças da natureza em jogo nas explosões nucleares. Assim, o Teste Trinity não é apenas um marco histórico, mas um contínuo caminho de aprendizado que se mostra crucial para a compreensão da matéria e do ambiente que nos cerca. De um evento destrutivo, podem advir descobertas que moldam o nosso futuro e iluminam caminhos para a paz e o entendimento maior das forças que governam nosso universo.
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