Identificação de Hiperacumuladoras de Metais: Implicações para a Agromineração no Brasil
Nos últimos anos, pesquisadores do Departamento de Agronomia da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) têm se dedicado a identificar espécies de plantas raras e de alto interesse econômico, particularmente as hiperacumuladoras de metais. Essas plantas possuem a capacidade de absorver metais como níquel, zinco, cobre e manganês em concentrações muito superiores às encontradas normalmente no solo, podendo ser utilizadas em práticas de agromineração.
A agromineração refere-se ao uso dessas plantas para extrair metais de ambientes contaminados e comercializá-los, alinhando-se aos princípios da economia circular. A identificação dessas espécies é um desafio, comparado a "tentar encontrar uma agulha em um palheiro", como afirmou Clístenes Williams Araújo do Nascimento, professor da UFRPE.
Os pesquisadores já identificaram algumas espécies de hiperacumuladoras no Brasil, incluindo novas espécies que poderão ser testadas em casa de vegetação e no campo. Embora as hiperacumuladoras representem apenas 0,2% das plantas conhecidas, algumas, como a Pycnandra acuminata, já são utilizadas comercialmente em países como Albânia, Malásia e Indonésia.
A Caça às Hiperacumuladoras no Brasil
As melhores candidatas a hiperacumuladoras são aquelas que demonstram alto poder de bioconcentração, eficiência na translocação de metais e alta produção de biomassa. A meta é que essas plantas sejam capazes de produzir pelo menos 10 toneladas por hectare para serem consideradas eficientes na agromineração.
Pesquisas em Niquelândia, Goiás, revelaram algumas plantas de interesse, mas muitas delas apresentaram limitações, como baixo crescimento em ambientes fora do Cerrado e baixa biomassa acumulada. Para ser classificada como hiperacumuladora, uma espécie precisa absorver uma quantidade significativa de metais, conforme especificado por Nascimento: mais de 100 microgramas de cádmio, 300 de cobalto, 1.000 de níquel, 3.000 de zinco e 10.000 de manganês.
Análise de Solos Ultramáficos
Os pesquisadores também estão colaborando com mineradoras para estudar solos ultramáficos, que compõem entre 1% e 3% da superfície terrestre e são ricos em metais pesados. Essas plantas resistentes estão adaptadas a essas condições adversas e podem contribuir significativamente para a agromineração.
Busca em Herbários e Tecnologias de Análise
Além das pesquisas de campo, a identificação de hiperacumuladoras também ocorre em herbários, onde uma nova espécie, Capparidastrum frondosum (feijão-bravo-preto), foi encontrada em Pernambuco, reconhecida por sua capacidade de acumular grandes quantidades de zinco. Utilizando um equipamento portátil de fluorescência de raios X, os pesquisadores podem analisar rapidamente a concentração de metais em diversas espécies de plantas.
As análises incluem coleções de importantes instituições como a Universidade Federal de Pernambuco e da Universidade de Brasília, com uma meta de examinar mais de 8.000 exsicatas até o momento.
Futuro da Agromineração e Biotecnologias
Com a criação do Instituto Nacional de Biotecnologias para o Setor Mineral (Inabim), que visa abordar desafios relacionados à recuperação de áreas degradadas pela mineração, o trabalho dos pesquisadores deve avançar ainda mais. Com apoio de outras instituições, como a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da USP, a expectativa é identificar novas espécies candidatas para práticas de agromineração e contribuir para a sustentabilidade ambiental e econômica.
Esses esforços destacam o potencial do Brasil na exploração de sua diversidade biológica para criar soluções inovadoras e sustentáveis na mineração.
Informações da Agência FAPESP
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