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Asteroides ‘invisíveis’ perto de Vênus: um potencial risco para a Terra no futuro

4 Min

Asteroides Coorbitais de Vênus: Uma Ameaça Oculta

Um estudo internacional liderado por pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp) identificou uma ameaça pouco conhecida, mas potencialmente significativa: asteroides que compartilham a órbita de Vênus e que podem escapar completamente das campanhas observacionais atuais devido à sua posição no céu. Embora ainda não tenham sido observados, esses objetos poderiam impactar a Terra em escalas de milhares de anos, com riscos de devastação em grandes cidades.

A População Invisível de Asteroides

Segundo o astrônomo Valerio Carruba, professor da Unesp, a pesquisa mostra que há uma população de asteroides potencialmente perigosos que não conseguem ser detectados pelos telescópios atuais. Estes corpos celestes orbitam o Sol em ressonância com Vênus, mas são invisíveis à tecnologia atual, apresentando um risco real de colisão com a Terra em um futuro distante.

O artigo foi publicado na revista Astronomy & Astrophysics. A pesquisa combinou modelagem analítica e simulações numéricas de longo prazo para rastrear a dinâmica destes asteroides e avaliar sua capacidade de se aproximar perigosamente da Terra.

Características dos Asteroides Coorbitais

Os Asteroides Coorbitais de Vênus orbita iguais ao planeta, completando uma volta ao redor do Sol em sincronia com Vênus. Ao contrário dos "Troianos de Júpiter", que são mais estáveis, os coorbitais venusianos conhecidos até agora são altamente excêntricos e instáveis, alternando entre diferentes configurações orbitais ao longo de ciclos de aproximadamente 12 mil anos. Durante essas transições, alguns asteroides podem se aproximar a distâncias muito pequenas da órbita terrestre.

A Questão da Excentricidade

Atualmente, apenas 20 asteroides coorbitais de Vênus estão catalogados, sendo que a maioria apresenta excentricidade superior a 0,38. Isso resulta em órbitas que os levam a regiões mais afastadas do Sol, onde podem ser detectados. Contudo, modelos computacionais indicam que deve existir uma vasta população de asteroides com excentricidade menor, que permanecem praticamente invisíveis da Terra.

A excentricidade mede o quanto uma órbita se desvia de uma circunferência perfeita. Asteroides com baixa excentricidade tendem a ser mais difíceis de detectar, especialmente quando localizados perto do Sol.

Implicações e Riscos

Simulações mostraram que esses objetos podem se aproximar perigosamente da Terra, com alguns podendo gerar impactos quase certos em escalas de milênios. Asteroides com cerca de 300 metros de diâmetro podem provocar crateras de até 4,5 quilômetros e liberar energia equivalente a centenas de megatons.

A pesquisa também considerou a possibilidade de detectar esses asteroides usando o Observatório Vera Rubin (LSST) no Chile. No entanto, as simulações indicam que esses corpos só seriam visíveis em janelas limitadas, tornando-os indetectáveis pelos programas regulares de observação.

Alternativas de Detecção

Uma solução seria utilizar telescópios espaciais focados nas regiões próximas ao Sol. Projetos como o Neo Surveyor da NASA e a proposta Crown da China poderiam detectar asteroides em baixas elongações solares. Carruba ressalta que a defesa planetária deve considerar objetos ainda invisíveis.

A Origem dos Asteroides

A origem dos asteroides coorbitais de Vênus é atribuída a interações gravitacionais que os desviaram do Cinturão de Asteroides, onde poderiam ser temporariamente capturados em ressonância com Vênus. Carruba explica que essas capturas são efêmeras e podem durar em média cerca de 12 mil anos.

A pesquisa foi conduzida pelo Grupo de Dinâmica Orbital e Planetologia da Unesp e contou com o apoio da FAPESP. O artigo completo, intitulado The invisible threat: assessing the collisional hazard posed by undiscovered Venus co-orbital asteroids, pode ser acessado neste link.

Informações da Agência FAPESP

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